Como a IA ajudou a aliviar minha dor nas costas

Fonte: BBC News Brasil | Seção: Notícias | Imagem: Reprodução Internet | Data: 18/05/2025 Quando eu comecei a sentir dor nas costas, em outubro de 2024, a causa não era clara. Talvez tenha acontecido algo enquanto eu levantava meus sobrinhos. Ou, mais provável, que eu tenha me machucado ao levantar a cama para que a minha esposa colocasse um tapete embaixo. Independentemente do motivo, o excesso de confiança na minha força me rendeu uma lesão na lombar. Dias depois, a dor atingiu meu nervo ciático, na minha perna esquerda. Ficar em pé era tranquilo, mas sentar era uma tortura. Para conseguir dormir, eu tinha que colocar um travesseiro debaixo das pernas, tentando conter os choques que eu sentia. No meio de dezembro, eu decidi procurar um médico em Washington, nos Estados Unidos, onde eu moro. Ele fez alguns testes de movimento comigo, me pediu uns exames de raio-X, e me encaminhou para a fisioterapia com um diagnóstico: radiculopatia lombar. Do início da dor até eu começar o tratamento, foram cerca de três meses. Alguns podem considerar um processo relativamente rápido. Ainda assim, é muito tempo para algo tão comum e debilitante como uma dor na lombar. Desde o início de janeiro, vou à clínica uma vez por semana e sou atendido por fisioterapeutas. Falo sobre as dores que eu estou sentindo, recebo uma massagem e faço alguns exercícios e alongamentos. Minha dor ainda não passou, mas finalmente está sob controle. Eu quis destacar que vou à clínica porque eu também tenho experimentado um outro de tipo de fisioterapia que está sendo muito usada no Reino Unido: a guiada por inteligência artificial. Um novo tipo de fisioterapia Minha fisioterapeuta britânica é parcialmente humana. Na verdade, trata-se de uma aplicativo com uma série de vídeos gravados por uma fisioterapeuta de verdade, mas operados por inteligência artificial, que personaliza as minhas sessões baseadas nas minhas respostas à uma série de perguntas. Tudo feito pelo celular. O serviço é oferecido pela empresa Flok Health, a primeira clínica de inteligência artificial a ser usada pelo Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, sigla em inglês). Ele já foi aprovado pela Comissão de Qualidade do Cuidado do país, registrado como prestador de serviços de saúde, e começou a atender pacientes, como eu, no fim de 2024. O motivo é simples: várias pessoas sofrem com dor na lombar e têm dificuldade para conseguir atendimento. Esse problema afeta cerca de 223 milhões de pessoas no mundo, e é a principal causa de incapacidade. Só na Inglaterra, aproximadamente 350 mil pessoas estavam na fila de espera para receber tratamento por causa de problemas musculoesqueléticos em setembro de 2024 — a maior fila de espera do sistema de saúde britânico. Segundo o governo do Reino Unido, apenas em 2022, foram perdidos 23,4 milhões de dias de trabalho por causa desses problemas não tratados, gerando um enorme custo econômico, e também humano. A promessa da Flok é começar a atender pacientes imediatamente, aliviando a sobrecarga do NHS e tratar a dor nas costas antes que ela piore. A missão é nobre, mas eu me pergunto: Será que a inteligência artificial é a solução? ‘Fiquei em choque ao ver como é o acesso à saúde para a população’ Além de ser médico formado, Finn Stevenson também foi atleta profissional de remo no programa de desenvolvimento olímpico da Grã-Bretanha. Quem já remou sabe que o esporte é um excelente exercício físico, mas pode ser brutal para as costas se a postura não estiver perfeita. Enquanto atleta profissional, Stevenson tinha acesso aos melhores médicos e fisioterapeutas para tratar qualquer lesão. Mas quando ele deixou o remo e sua dor nas costas voltou, ele percebeu como era difícil conseguir tratamento como uma pessoa comum. “Foi um choque ver como é o acesso à saúde para 99,5% da população”, disse Stevenson, hoje CEO da Flok. “Em teoria, eu estava bem preparado para lidar com isso. Eu tinha uma formação acadêmica, três anos de fisioterapia profissional. Se eu estava tendo dificuldade, outras pessoas provavelmente também estavam.” Stevenson e Ric da Silva, co-fundador da Flok e hoje chefe de tecnologia, se conheceram quando trabalhavam na CMR Surgical, uma startup britânica onde eles construíam juntos robôs para cirurgias de tecidos moles. Mas com a Flok, o objetivo é oferecer tratamento para pessoas que não precisam de cirurgia, focando em casos mais simples e fáceis de tratar. “Existem muitas condições em que isso é possível, que você não precisa fazer um raio-X, de trabalho humano ou medicação”, diz da Silva. “O que você precisa são 10 minuto de alongamento alguns dias na semana, e isso resolverá seu problema”, destacou. A ideia é que isso aliviará a carga de trabalho de profissionais de saúde para que eles possam se dedicar a pacientes com problemas mais complexos, que realmente precisam de atendimento especializado. Enquanto o boom da inteligência artificial nos últimos anos tem sido impulsionado por avanços em IA generativa, a Flok aposta em outro caminho. “Nós desenvolvemos uma linguagem específica para descrever o raciocínio clínico”, explica Stevenson. Como não se trata de um robô tipo o ChatGPT, que prevê a próxima palavra de uma sequência, não há o risco da chamada “alucinação”, quando os algoritmos inventam informações, algo que gera muita preocupação no uso de IA na medicina. Em vez disso, a IA da Flok funciona mais como um livro de “escolha sua própria aventura”, em que há mais de um bilhão de combinações possíveis de intervenções, segundo Stevenson. O poder da inteligência artificial permite que tudo isso seja entregue de forma integrada. “O software é um modelo de entrega extremamente eficaz quando você sabe exatamente o que quer oferecer — e só precisa fazer isso de maneira mais escalável.” Atualmente, a Flok está expandindo suas operações. Seu serviço foi lançado primeiro na Escócia, no fim do ano passado, e recentemente assinou contratos em alguns lugares da Inglaterra. Nos próximos 12 meses, Stevenson diz que espera cobrir pelo menos metade do Reino Unido. A empresa também está expandindo as áreas de dor para serem tratadas, como osteoartrite de quadril e joelhos, e saúde pélvica da

O ignorado impacto na saúde de quem reclama o tempo todo

Fonte: BBC News Brasil | Seção: Notícias | Imagem: Reprodução Internet | Data: 24/11/2024 Imaginemos uma situação muito comum. Duas pessoas caminham apressadamente e se encontram na rua. Eles podem ser amigos, colegas de trabalho ou conhecidos. Um deles cumprimenta o outro, dizendo “olá, como vai?” ou “tudo bem?”. Automaticamente, o outro responde “vamos indo” ou “caminhando, dentro do possível”. E cada um segue o seu caminho. O tom de queixa parece algo típico de um encontro como esse. De fato, é muito frequente ouvir reclamações sobre o trânsito, o clima, o trabalho ou as dificuldades econômicas. Para muitos, é algo inofensivo e até terapêutico, já que serve de alívio emocional. Mas já foi demonstrado que o lamento crônico traz impactos significativos para a saúde mental, emocional e até física – tanto de quem reclama quanto de quem ouve as queixas. Fenômeno cotidiano Abordaremos aqui a expressão recorrente de insatisfação, frustração ou mal-estar, causada por situações percebidas como negativas. Este é um fenômeno quase universal, que pode ser extrapolado para contextos familiares, sociais e profissionais. Longe de uma visão cataclísmica, reclamar ocasionalmente é um aspecto normal da experiência humana. O desgaste emocional e fisiológico ocorre quando este estado de espírito negativo invade nossa rotina diária. Mas por que reclamamos tanto? Especialistas acreditam que as queixas agem como mecanismo de enfrentamento. Através delas, liberamos tensões ou buscamos aprovação. Concretamente, já se observou que nós reclamamos para buscar a aceitação da nossa opinião ou percepção, como se fosse um loop. Até aqui, a reclamação funciona como uma estratégia de apresentação perante o nosso grupo social. Ela é uma função adaptativa do ser humano. O problema surge quando ela passa a ser crônica, estendendo-se a inúmeros contextos. É uma situação que se agrava com o uso e abuso das redes sociais. Nelas, pessoas influentes entre os mais jovens costumam dedicar grande parte do seu conteúdo a atacar isso e aquilo, como estratégia de captação de seguidores ou para criar debates e intercâmbio de comentários. Diversas pesquisas confirmaram que o cérebro humano foi desenhado para identificar ameaças e problemas, o que explica por que é tão fácil se fixar no negativo e porque algumas pessoas se queixam mais do que outras. Trata-se de um mecanismo evolutivo de função protetora: o cérebro tende a se fixar no negativo porque isso permitia que se enfrentasse um perigo real e aumentava as chances de sobrevivência. Mas esse efeito, chamado de viés de negatividade, pode ser contraproducente no entorno moderno. Manter o foco no negativo de maneira contínua pode alterar a forma como as pessoas vêem o mundo e interagem com outras. Alguns estudos destacam que o ato de se lamentar pode causar mudanças estruturais no cérebro que, por sua vez, dificultam a resolução de problemas e afetam as funções cognitivas. Isso significa que as pessoas queixosas podem sofrer redução de funções como a resolução de problemas, a tomada de decisões ou o planejamento – o que gera ainda mais frustrações e, consequentemente, mais queixas. Também se observou que a reclamação cotidiana está correlacionada com a sintomatologia ansiosa depressiva. Concretamente, ela traz pensamentos intrusivos, ruminações, baixa autoestima, cansaço e fadiga mental. Por isso, os indivíduos que não param de se lamentar por tudo costumam ser mais pessimistas e menos resilientes frente às adversidades. Estratégias para mudar de atitude Algumas das formas de interação e enfrentamento mais recomendadas pela psicologia são as seguintes: 1. Praticar a gratidão. Concentrar a atenção no momento presente, com foco no que já temos, favorece o agradecimento. Registrar em um diário tudo aquilo que nos faz sentir gratidão ajuda a mudar a perspectiva. 2. Buscar soluções. Fazer, por exemplo, uma lista de possíveis ações para melhorar uma situação nos oferece uma sensação de controle e reduz a frustração. 3. Prestar atenção às nossas palavras. A psiconeurolinguística nos ensina que ter consciência da linguagem que empregamos e modificá-la para que seja mais positiva ou neutra pode nos ajudar a alterar os padrões de pensamento. 4. Estabelecer limites com os demais. Este é um mecanismo de proteção. Ele inclui, por exemplo, evitar conversas concentradas demais no negativo ou propor um enfoque mais construtivo para os problemas. Ter consciência do hábito nocivo de reclamar sem descanso e tentar mudá-lo, sem dúvida, é essencial para melhorar a qualidade de vida. É um propósito que faz parte do crescimento pessoal de cada indivíduo e pode ser reforçado com o apoio da terapia psicológica. Antes de se queixar outra vez, considere os efeitos cerebrais, emocionais e sociais da sua atitude. E lembre-se: a reclamação não é algo negativo, desde que não seja crônica. Não somos perfeitos, somos humanos. * María J. García-Rubio é professora da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Internacional de Valência, na Espanha. Ela também é uma das diretoras da Cátedra VIU-NED de neurociência global e mudanças sociais e membro do Grupo de Pesquisa sobre Psicologia e Qualidade de Vida (PsiCat) da Universidade Internacional de Valência. Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em espanhol.

O que a cera do ouvido pode revelar sobre sua saúde

Fonte: Correio Braziliense | Seção: Notícias | Imagem: Reprodução Internet | Data: 01/05/2025 Estudos mostram que é possível diagnosticar sinais de doenças, como câncer e problemas cardíacos, a partir da É alaranjada, é grudenta, e provavelmente é a última coisa sobre a qual você gostaria de falar em uma conversa. Ainda assim, a cera do ouvido tem atraído cada vez mais a atenção dos cientistas, que querem usá-la para aprender mais sobre doenças e outras condições como câncer, doenças cardíacas e distúrbios metabólicos, como diabetes do tipo 2. O nome correto dessa substância pegajosa é cerúmen, e trata-se de um misto de secreções de dois tipos de glândulas — as ceruminosas e as sebáceas — que revestem o canal auditivo externo. Essas secreções se misturam aos pelos, células mortas da pele e outros detritos até atingir a consistência de uma cera que todos nós conhecemos. Uma vez formada no canal auditivo, a substância é transportada por um tipo de mecanismo semelhante ao de uma esteira, agarrando-se a células da pele enquanto se move de dentro para fora do ouvido, algo que acontece em uma velocidade extremamente baixa, de aproximadamente um vigésimo de milímetro por dia. A função principal da cera do ouvido ainda é debatida, mas é mais provável que ela sirva para manter o canal auditivo limpo e lubrificado. No entanto, ela também funciona como uma armadilha eficaz, impedindo que bactérias, fungos e outros visitantes indesejados, como insetos, encontrem o caminho até nossas cabeças. Até aqui, tudo soa um pouco nojento. E, talvez por causa de sua aparência não tão agradável, a cera do ouvido tenha sido menos estudada por pesquisadores quando comparada a outras secreções corporais. Mas isso está começando a mudar, graças à uma série de descobertas científicas surpreendentes. A primeira delas é que a cera do ouvido pode conter uma quantidade enorme de informações sobre uma pessoa, algumas triviais e outras mais importantes. Por exemplo, a grande maioria de pessoas com ascendência europeia ou africana tem uma cera de ouvido úmida, na cor amarela ou laranja, e com aspecto pegajoso. Já 95% das pessoas do leste asiático têm uma cera de ouvido seca, na cor cinza, e que não é grudenta. O gene responsável pela produção da cera úmida e seca é chamado ABCC11, que também está ligado a um outro traço curioso: o odor das axilas. Cerca de 2% das pessoas, principalmente as com cera seca, têm uma versão desse gene que faz com que suas axilas não tenham cheiro. Contudo, talvez a descoberta mais útil relacionada à cera do ouvido é o que ela pode revelar sobre a nossa saúde. Pistas importantes Em 1971, Nicholas L Petrakis, professor de medicina da Universidade da Califórnia, em São Francisco, descobriu que mulheres caucasianas, afro-americanas e alemãs nos Estados Unidos, todas com “cera de ouvido úmida”, tinham aproximadamente quatro vezes mais chances de morrer de câncer de mama do que as japonesas e taiwanesas que tinham a cera do ouvido seca. Mais recentemente, em 2010, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Tóquio coletaram amostras de sangue de 270 pacientes mulheres com câncer de mama invasivo, e 273 voluntárias que não tinham a doença. Eles descobriram que as japonesas com câncer de mama tinham até 77% mais chances de ter o gene associado à cera do ouvido úmida do que as voluntárias saudáveis. Apesar disso, as descobertas permanecem controversas, e estudos em grande escala na Alemanha, Austrália e Itália não encontraram diferenças no risco de câncer de mama entre pessoas com cera úmida e seca, embora o número de pessoas que têm cera de ouvido seca nesses países seja muito pequeno. O que está mais bem estabelecido é a relação entre algumas doenças sistêmicas e as substâncias encontradas na cera do ouvido. Tome como exemplo a leucinose, mais conhecida como “doença da urina de xarope de bordo”, um distúrbio genético que impede o corpo de quebrar certos aminoácidos encontrados na comida. Isso leva a um acúmulo de compostos voláteis no sangue e na urina, dando à urina um cheiro característico de xarope. A molécula responsável pelo cheiro adocicado da urina é o sotolon, e ela também pode ser encontrada na cera do ouvido de pessoas com essa condição. Isso significa que a doença poderia ser diagnosticada por meio de um cotonete no ouvido, uma forma muito mais barata e simples do que um teste genético. “A cera do ouvido realmente cheira a xarope de bordo, então, dentro de 12 horas após o nascimento do bebê, quando você sente esse cheiro distinto, ele indica que há um problema no metabolismo”, diz Rabi Ann Musah, química ambiental da Universidade do Estado da Louisiana. A covid-19 também pode ser detectada, em alguns casos, por meio da cera do ouvido, e essa substância também pode indicar se uma pessoa tem diabetes do tipo 1 ou 2. Estudos iniciais sugerem que é possível dizer se uma pessoa tem uma doença cardíaca através da cera do ouvido, embora ainda seja mais fácil diagnosticar essa condição por meio de exames de sangue. Há ainda a doença de Ménière, um distúrbio no ouvido interno que faz com que a pessoa tenha vertigens e perda da audição. “Esses sintomas podem ser muito debilitantes”, afirma Musah. “Incluem náuseas intensas e vertigens, o que torna impossível dirigir ou ir a lugares desacompanhado. Eventualmente, a pessoa perde completamente a audição no ouvido afetado.” Recentemente, Musah liderou um grupo que descobriu que a cera do ouvido dos pacientes com a doença de Ménière tinha níveis mais baixos de três ácidos graxos do que a de pessoas saudáveis. Essa é a primeira vez que se encontra algum tipo de biomarcador para a condição, que geralmente é diagnosticada por exclusão — um processo que pode levar anos. A descoberta aumenta a esperança de que, no futuro, a cera do ouvido possa ser usada pelos médicos para diagnosticar essa condição de forma mais rápida. “Nosso interesse na cera do ouvido como indicadora de doenças está voltado para aquelas doenças muito difíceis de diagnosticar usando fluidos como sangue e urina, e

Dos rituais indígenas ao laboratório: uma planta em teste contra a depressão no Brasil

Fonte: Correio Braziliense | Seção: Notícias | Imagem: Reprodução Internet | Data: 04/05/2025 Planta contém um poderoso psicoativo, apresenta-se como possível tratamento para a depressão. Dos rituais indígenas ao laboratório: a planta jurema-preta, que contém um poderoso psicoativo, apresenta-se como possível tratamento para a depressão no Brasil. Disponível em barracas de rua que vendem ervas medicinais, a jurema-preta, ou mimosa tenuiflora, contém dimetiltriptamina (DMT) em suas raízes. Pesquisas em países como China, Coreia do Sul, Estados Unidos, Finlândia e Reino Unido mostraram que essa substância alucinógena pode aliviar a depressão.  No Brasil, cientistas e usuários atestam o seu potencial, mas alguns alertam que “não é uma cura mágica”. “Quando você tem a primeira experiência, parece que é uma lição mesmo”, contou à AFP Guaracy Carvajal que em 2016 extraiu DMT em casa a partir de plantas que comprou em uma banca de rua em Brasília. Seguindo instruções que encontrou na Internet, esse programador de software, de 31 anos, transformou a casca marrom que cobre as raízes da jurema-preta em cristais que fumou em um cachimbo. “Parece que você resolveu mesmo alguma coisa da sua vida”, resumiu Carvajal, de braços tatuados e cabelos longos, que tentou vários tratamentos para a depressão crônica de que sofre desde a adolescência. Publicação na Nature Na cidade de Natal, o físico Draulio Araújo extrai DMT da jurema-preta em condições estritas de laboratório. Pesquisador do Instituto do Cérebro, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Araújo e sua equipe administraram a substância durante seis meses em 14 pessoas com depressão. Os pacientes inalaram DMT vaporizado em balões, sob supervisão médica. “A resposta é rápida. Um dia depois da intervenção, os pacientes já apresentaram uma melhora importante dos sintomas de depressão”, afirmou o pesquisador. “É comum que nossos pacientes digam que alguma coisa mudou, que a chave virou.” Suas descobertas foram publicadas em abril na revista científica Nature. Em 2024, ele publicou outro estudo com resultados promissores, na revista Psychedelic Medicine. – ‘Não é para todos’ – Segundo Araújo, substâncias psicodélicas, como o DMT, facilitam que as pessoas mudem “um pouco a perspectiva sob a qual abordam ou observam certos problemas” de sua vida. Carvajal concorda: “Tive um estado de me questionar” sobre “o trabalho, o dia a dia (…) Você passa a ter uma vida mais leve”, resumiu o programador, que parou de usar a planta há algum tempo. No Brasil, não há proibição do cultivo ou da posse da jurema-preta. O consumo de DMT, entretanto, é proibido, com exceções para uso religioso e científico. Araújo adverte que a substância “não é uma cura mágica” e que “os psicodélicos não são para todos”. Em seus experimentos, os pacientes recebem ajuda psicológica, e alguns continuam com seu tratamento farmacêutico convencional. “São tratamentos que não necessariamente implicam em você ter que tirar a medicação”, explicou a neurocientista Fernanda Palhano-Fontes, do Instituto do Cérebro. “Da mesma maneira que a gente tem pacientes que melhoram muito, tem pacientes que não melhoram nada.” – ‘Canais espirituais’ – “O Brasil ocupa atualmente uma posição de bastante destaque” nas pesquisas com DMT, devido às raízes da substância na sociedade, disse Araújo.  Em seu uso religioso, as raízes da jurema-preta são combinadas com outras plantas em uma espécie de vinho, que anima os rituais com danças e tambores. Isso faz parte das tradições indígenas do Nordeste, onde a planta é cultivada. “Não é alucinação. Meus canais espirituais ficam mais acessíveis. Então, consigo ter uma comunicação melhor comigo mesma”, contou Joyce Souza, durante uma cerimônia de jurema em Planaltina, nos arredores de Brasília. Reunidos no pátio de uma casa vestidos de branco, os mais novos esperam que os “iniciados” no culto entrem em transe e tragam mensagens de espíritos antigos.  Araújo busca expandir seus estudos sobre DMT para uma centena de pacientes. “Digamos que, em cinco anos, teremos uma imagem clara de quando chegará a um cenário clínico real”, previu o pesquisador.

Como pessoas com a mente ativa desenvolvem Alzheimer

Fonte: Correio Braziliense | Seção: Notícias | Imagem: Reprodução Internet | Data: 04/05/2025 Especialista explica como fatores genéticos e hábitos de vida influenciam o surgimento da doença. Mulher que inspirou o filme vencedor de Melhor Filme Internacional no Oscar de 2025, Eunice Paiva, esposa do ex-deputado Rubens Paiva, desaparecido e morto durante a ditadura militar, teve seus últimos anos de vida marcados pelo Alzheimer. A trajetória da personagem foi interpretada pelas atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro (já em cena com os efeitos da demência). Mas como uma mulher inteligente, ativa e determinada, que dedicou anos à busca pela verdade sobre o desaparecimento do marido, pode ter desenvolvido uma doença tão devastadora como o Alzheimer? O médico vascular e angiologista Álvaro Pereira esclarece pontos importantes sobre o caso de Eunice Paiva. “Em primeiro lugar, Eunice conviveu com a doença durante 14 anos, o que já é uma conquista. A média de vida após o diagnóstico gira em torno de oito a dez anos. Outro fator relevante é que ela começou a apresentar os primeiros sinais aos 75 anos e faleceu aos 89, o que indica que suas atividades intelectuais e estilo de vida contribuíram para retardar o avanço da doença. Vale lembrar que o Alzheimer pode surgir bem mais cedo e sim, pode estar relacionado à genética”, explica o especialista. Segundo ele, o tempo prolongado de vida com a doença sugere que Eunice recebia cuidados diferenciados e provavelmente mantinha sob controle outras condições clínicas como hipertensão, diabetes e colesterol alto. O histórico familiar importa, mas não é determinante. “Muitas doenças têm predisposição genética, inclusive o Alzheimer. Ter casos na família pode aumentar o risco, mas não é uma sentença. Da mesma forma, pessoas sem nenhum caso familiar também podem desenvolver a doença”, afirma. Não há sinais definitivos de que alguém terá Alzheimer. No entanto, esquecimentos frequentes, perda de memória e lentidão no raciocínio, especialmente sem causas aparentes como estresse extremo, sobrecarga de trabalho ou problemas emocionais, podem ser indícios de predisposição. O que se sabe, segundo o especialista, é que não há um roteiro certo para o surgimento de demências. Por isso, o foco deve estar na prevenção e na promoção de hábitos saudáveis, especialmente para quem tem antecedentes familiares. “Manter uma alimentação equilibrada, praticar exercícios físicos, usar ativamente o cérebro, estimular o intelecto, ter interações sociais frequentes e significativas, tudo isso ajuda. Hoje também já temos recursos como a ledterapia, que pode auxiliar na prevenção e até no retardo da progressão da doença. Infelizmente, Eunice não teve acesso a essas tecnologias, que ainda não estavam disponíveis na época.” “A busca por um envelhecimento saudável e digno envolve múltiplos fatores. A ciência vem avançando, mas é natural que com a idade haja perda de capacidade cognitiva. Manter corpo e mente ativos é uma das formas mais eficazes de adiar ou evitar o surgimento de diferentes tipos de demência”, complementa. 

O que seu tempo de reação revela sobre sua saúde (e como medi-lo com teste caseiro simples)

Fonte: Correio Braziliense | Seção: Notícias | Imagem: Reprodução Internet | Data: 05/05/2025 Com o passar dos anos, nossa velocidade de reação aos estímulos externos diminui. Como saber se estamos envelhecendo de forma saudável e prever possíveis problemas de saúde? Ao longo da vida, nossa velocidade de reação aos estímulos entra lentamente em declínio. Este é um dos motivos que levam o nosso desempenho esportivo a diminuir a partir dos 30 anos de idade. Os cientistas estão descobrindo que poder manter um tempo médio de reação pode ser um indicador importante do bom funcionamento do nosso cérebro, mesmo nas nossas últimas décadas de vida. Mas a nossa velocidade de reação pode revelar muito mais do que isso. Da nossa saúde cardíaca até o risco de morte precoce, os tempos de reação podem fornecer uma janela para o funcionamento interno do nosso corpo. “Existem pessoas que simplesmente tendem a ser mais rápidas que outras, mesmo antes do aumento dos efeitos do envelhecimento“, explica o professor de envelhecimento cognitivo e cerebral Simon Cox, da Universidade de Edimburgo, na Escócia. “Mas o declínio dos tempos de reação provavelmente indica o acúmulo da degradação causada pela idade. Trata-se de um marcador que nos conta muito sobre o funcionamento combinado de uma série de sistemas biológicos.” Teste caseiro Mas como podemos determinar o tempo de reação no conforto do nosso lar? Uma avaliação simples é um experimento bem conhecido chamado “teste da régua que cai“. Você irá precisar do auxílio de um amigo ou familiar e, é claro, de uma régua. Instruções Resultados De forma geral, pegar a régua a uma distância de menos de 7,5 cm equivale a um desempenho excelente. Entre 7,5 e 15,9 cm é uma distância acima da média. A média é de 15,9 a 20,4 cm; abaixo da média é qualquer número acima de 20,4 cm – e mais de 28 cm é ruim. Estudos populacionais observaram correlação entre a velocidade do declínio dos tempos de reação e o risco de diversas doenças relativas à idade. Um estudo encontrou relação significativa entre o tempo de reação das pessoas e a probabilidade de morte por todas as principais causas. E, além do risco geral, existe também forte relação entre esta avaliação e o risco de morte por condições específicas. Estas condições incluem doenças cardíacas coronarianas, AVC e doenças respiratórias. O tempo de reação de uma pessoa também é associado à sua susceptibilidade a quedas, perda da capacidade de viver de forma independente e ao desenvolvimento de demência. Mas Cox afirma que uma única medição do tempo de reação não revela todas estas condições. A velocidade de reação varia consideravelmente de uma pessoa para outra, devido a fatores como o gênero e a genética, condicionamento físico, hábitos e estilo de vida e até o tipo de personalidade. Cox explica que provavelmente é mais importante observar as variações da sua velocidade de reação, comparando os resultados do mesmo teste ao longo do tempo — por exemplo, anualmente, ao longo de uma década — e verificar se o seu desempenho começa a sofrer declínios sensíveis. Os possíveis motivos Cox indica que a nossa capacidade de reação depende de uma rede de sistemas sensoriais interconectados, como a nossa capacidade de enxergar, ouvir ou até sentir o cheiro de certos estímulos. Estes fatores incluem a rapidez com que o nosso cérebro processa as informações recebidas dos olhos ou ouvidos e emite um sinal em resposta, além da velocidade com que as nossas fibras nervosas, músculos e tendões finalmente conseguem pôr em prática as instruções recebidas do cérebro. “Todas estas peças do quebra-cabeça podem ser afetadas pelo envelhecimento, não necessariamente na mesma medida em todas as pessoas”, explica o professor. Existem dois componentes na reação ao teste da régua que cai: a capacidade do cérebro de determinar rapidamente que a régua caiu e a velocidade com que o corpo consegue agir, com base nas instruções do cérebro, para pegá-la. Os pesquisadores concluíram que o primeiro componente desta rede que costuma falhar, a partir da meia-idade, é a nossa capacidade física de agir com base nos sinais do cérebro. Ou seja, o nosso cérebro podem observar que a régua caiu em questão de milissegundos — mas ainda leva algum tempo para que o corpo acompanhe a informação. A professora de biomedicina Alaa Ahmed, da Universidade do Colorado em Boulder, nos Estados Unidos, descobriu que, à medida que envelhecemos, o nosso tempo de reação pode depender mais da saúde geral do corpo do que do cérebro. Ela explica que isso pode ocorrer devido ao desgaste de componentes do nosso corpo como fibras musculares de rápida contração, responsáveis pela nossa capacidade física de reagir com rapidez. Ou porque as mitocôndrias — os componentes das nossas células que geram energia — já não trabalham tão bem e, por isso, nossa eficiência para fazer movimentos rápidos diminui. “Fazer movimentos rápidos é mais difícil para os idosos”, explica Ahmed. “Por isso, eles precisam principalmente reagir com mais rapidez.” Manter a saúde Paralelamente, se permanecermos relativamente bem de saúde, o nosso cérebro e o nosso sistema nervoso central podem continuar funcionando bem na idade avançada. O professor de biomecânica Matthew Pain, da Universidade de Loughborough, no Reino Unido, afirma que os cientistas avaliam esta questão medindo o “reflexo de alarme“ nos tornozelos de pessoas idosas saudáveis, em resposta a um som alto. Os resultados demonstraram que a capacidade cerebral de reagir ao som e enviar um sinal de “mova-se” para o tornozelo costuma permanecer relativamente inalterada. “O hardware bruto do sistema nervoso nas [pessoas] idosas saudáveis não é [muito] inferior”, explica Pain. “Puramente com base no reflexo de alarme, eles ainda podem reagir com rapidez suficiente para serem desclassificados nos Jogos Olímpicos por queimarem a largada. Mas não conseguirão se livrar dos blocos com muita rapidez.” Além do teste da régua, é possível avaliar o tempo de reação com jogos simples de computador, como o Teste do Tempo de Reação Padrão Humano. Nele, é preciso aguardar que uma caixa vermelha fique verde, para clicá-la o mais rápido possível. Fortes declínios do desempenho ao longo do tempo podem refletir a deterioração de uma série de sistemas sensoriais, além da redução da velocidade de tomada de decisões pelo cérebro. Em 2024, um estudo

Vírus comuns podem aumentar o risco de Alzheimer?

Fonte: BBC News Brasil | Seção: Notícias | Imagem: Reprodução Internet | Data: 28/04/2025 Durante décadas, a pesquisadora Ruth Itzhaki diz que seu trabalho foi ignorado, tratado com hostilidade e chegou a ser classificado por outros especialistas como “ruim”, “lixo” e “ridículo”. Ela foi uma das primeiras neurocientistas a suspeitar — e demonstrar — que vírus comuns podem ter um papel importante no desenvolvimento da doença de Alzheimer “Nós não conseguíamos que nossos artigos científicos fossem aceitos e publicados em jornais acadêmicos. Com isso, não tínhamos acesso ao financiamento para novas pesquisas. E, sem dinheiro suficiente, era difícil seguir com os estudos”, lembra Itzhaki, que é professora emérita da Divisão de Neurociências da Universidade de Manchester, no Reino Unido. “Foi extremamente difícil e lidamos com a falta de dinheiro o tempo todo”, complementa a pesquisadora, que atualmente é professora visitante do Instituto de Envelhecimento Populacional da Universidade de Oxford. tzhaki acredita que, se o trabalho dela e de outros investigadores tivesse recebido a devida atenção e incentivo anos atrás, seria possível ter hoje uma compreensão muito mais ampla sobre as causas da demência e as melhores formas de combatê-la. Mas o tempo das vacas magras para esse ramo da ciência parece ter chegado ao fim. Nos últimos três ou quatro anos, a publicação de novas pesquisas deu um novo ânimo ao campo que busca pistas na virologia para entender as neurociências — e motivou o início dos primeiros ensaios clínicos com vacinas e antivirais como potenciais ferramentas de prevenção do Alzheimer. Conheça a seguir as evidências disponíveis sobre o papel de agentes infecciosos no apagamento das memórias e nas dificuldades de raciocínio. Vírus escondidos e os mistérios do Alzheimer Para saber como o conhecimento nessa área tem evoluído, é preciso antes entender dois conceitos básicos e bem estabelecidos. O primeiro deles é que alguns vírus têm a capacidade de ficar “escondidos” por muito tempo, praticamente por toda a vida, em alguns reservatórios do organismo. É o caso do herpes simples do tipo 1 (que afeta a boca), do tipo dois (que atinge a região genital) e do varicela-zoster (causador da catapora). Após a infecção inicial, esses patógenos permanecem no corpo e podem ser reativados de tempos em tempos. No caso do herpes simples, em momentos de baixa imunidade, surgem aquelas bolhas e feridas típicas na pele. Já o varicela pode gerar um quadro chamado herpes zoster, marcado por erupções cutâneas bem dolorosas num trecho do corpo, como parte do rosto, do abdômen ou das costelas. O segundo conceito tem a ver com o Alzheimer em si. Em meados dos anos 1990, a chamada “cascata amiloide” ganhou força como a principal explicação para esse tipo de demência. Essa linha de raciocínio sustenta que tudo começa com uma inflamação no cérebro. Com o tempo, há o acúmulo de uma proteína chamada beta-amiloide do lado de fora dos neurônios. Depois, a TAU — um outro tipo de proteína — começa a ser estocada em grandes quantidades no interior das células nervosas. Esse processo dificulta a conexão entre diferentes partes da cabeça e causa a morte dos neurônios — o que se traduz na progressão da perda de memórias, da dificuldade de raciocínio e dos demais sintomas do Alzheimer. “Mas ainda não sabemos o que faz essas duas proteínas se depositarem no cérebro”, acrescenta a neurologista Roberta Diehl Rodriguez, pesquisadora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Seriam vírus os gatilhos da demência? Foi nessa busca por respostas para o fator que iniciaria a cascata amiloide que alguns pesquisadores começaram a suspeitar dos agentes infecciosos. Entre as décadas de 1980 e 90, a professora Itzhaki fez os primeiros trabalhos que detectaram o material genético do herpes simples tipo 1 — um vírus extremamente comum, que afeta ao redor de 70% da população — no cérebro humano. “Nós já sabíamos que esse vírus pode causar uma encefalite [uma inflamação do sistema nervoso], um quadro bem raro, mas muito grave”, descreve ela. “Começamos a especular, então, se a reativação do herpes ao longo da vida não poderia desencadear uma série de eventos que culminariam em danos às células do sistema nervoso, que eventualmente levassem à morte delas.” Esses trabalhos pioneiros foram os primeiros a encontrar agentes infecciosos no cérebro — até então, havia praticamente um consenso de que o Sistema Nervoso Central era uma região praticamente protegida da ação dos vírus. Algo que chamou a atenção dos pesquisadores à época era que o herpes marcava presença tanto na cabeça de pessoas diagnosticadas que morreram com Alzheimer quanto naquelas que não apresentaram a doença durante a vida. Na avaliação deles, deveriam existir alguns outros fatores, como a genética, que pudessem explicar por que alguns indivíduos infectados desenvolviam a demência e outros não. Nos anos 1990, o time liderado por Itzhaki fez outra descoberta relevante: eles observaram em cobaias de laboratório que o herpes simples costuma se concentrar em regiões do cérebro que apresentam uma grande deposição da beta-amiloide. Isso gerou uma nova teoria: será que essa proteína é produzida pelo sistema nervoso como uma defesa, com o objetivo de “capturar” o vírus e inativá-lo? Sabe-se que essas moléculas têm um aspecto grudento — e poderiam supostamente “agarrar” o patógeno para dificultar a sua replicação antes que uma resposta imune mais elaborada fosse iniciada. A grande questão aqui é que o herpes tem aquela característica de ficar “escondido” e se reativar de tempos em tempos ao longo da vida. No cérebro, isso causaria uma inflamação repetida e geraria a fabricação da beta-amiloide com uma certa frequência. Com o passar do tempo, o que antes funcionava como um mecanismo de proteção se transforma num problema: como descreve a cascata amiloide, o acúmulo da proteína faz mal aos próprios neurônios e eventualmente provoca a morte deles. Vale lembrar aqui que essa ainda é uma teoria, que precisa ser comprovada em diversas pesquisas e aceita como um consenso entre especialistas da área. O papel das vacinas Recentemente, uma nova leva de trabalhos encontrou mais evidências do possível papel de agentes infecciosos no desenvolvimento do Alzheimer. Um deles foi publicado no início de abril na revista Nature

Cientistas descobrem como reduzir o risco de demência

Fonte: Correio Braziliense | Seção: Notícias | Imagem: Reprodução Internet | Data: 23/04/2025 Cientistas descobrem como reduzir o risco de demência A pressão alta pode culminar não apenas em doenças cardiovasculares, mas também em problemas neurológicos. Tratar adequadamente a condição pode reduzir o risco de demência e de comprometimento cognitivo, de acordo com um estudo publicado na revista científica Nature Medicine nesta segunda (21/4).  A pesquisa de 48 meses avaliou que um grupo medicado contra a hipertensão obteve um controle melhor da pressão arterial em comparação às pessoas que não tomavam a medicação. Tal gerenciamento intensivo da pressão arterial reduziu o risco de demência por todas as causas em 15%, e o de comprometimento cognitivo em 16%. A descoberta revela uma ligação direta entre o desenvolvimento de problemas neurológicos a partir da hipertensão.  Cardiologista do Hospital de Brasília Águas Claras, Stephanie Mares explica que o aumento da pressão arterial dentro do cérebro pode provocar um fenômeno chamado microangiopatia, uma lesão vascular pelo efeito dessa sobrecarga pressórica que leva a uma alteração chamada demência vascular. Em 2024, um artigo publicado no periódico científico Neurology já havia destacado que pessoas com hipertensão não tratada tinham uma chance 42% maior de desenvolver doença de Alzheimer, uma das principais formas de demência, em comparação com pessoas com a doença controlada.   Stephanie pontua que o controle da pressão é feito a partir do uso de medicamentos anti-hipertensivos e mudança do estilo de vida (com cessação de tabagismo, sedentarismo e outros comportamentos deletérios). “Hoje em dia as medicações estão cada vez mais modernas e com menos efeitos colaterais. Uma vantagem é que muitas delas estão disponíveis gratuitamente”, acrescenta. 

Combinação de dois medicamentos simples pode evitar mortes por infarto

Fonte: Correio Braziliense | Seção: Notícias | Imagem: Reprodução Internet | Data: 16/04/2025 Estudo com mais de 36 mil pacientes mostra que a combinação de dois medicamentos simples, acessíveis e com poucos efeitos colaterais usados logo após o infarto, pode evitar milhares de mortes em uma década. Um tratamento complementar recebido logo após o primeiro infarto pode salvar milhares de vidas, segundo um estudo europeu publicado no Journal of the American College of Cardiology. Com base em dados de 36 mil pacientes atendidos entre 2015 e 2022 no Hospital Universitário de Skane, na Suécia, os pesquisadores concluíram que a combinação de estatinas e ezetimiba — medicamentos e acessíveis usados para reduzir o colesterol “ruim” — ao longo de 12 semanas diminui o risco de um segundo evento cardiovascular e de óbito. Doenças do coração e do sistema circulatório são as que mais matam no mundo.  Embora o acidente vascular cerebral (AVC) seja a principal causa de morte, o evento cardiovascular mais comum é o infarto do miocárdio. Segundo Carlos Alberto Pastore, cardiologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), o infarto ocorre devido à insuficiência de sangue oxigenado na região do coração, algo que ocorre quando há bloqueio ou entupimento de uma veia coronária. “A falta de irrigação leva o miocárdio (músculo cardíaco) a entrar em um processo de necrose, podendo resultar em óbito”, explica.  Nos 12 primeiros meses após o primeiro infarto, o risco de um segundo evento e de morte decorrente é maior porque os vasos sanguíneos estão mais sensíveis, o que facilita a formação de coágulos. Uma das estratégias para evitar a recorrência é reduzir o LDL, o chamado “colesterol ruim”, o que estabiliza as alterações vasculares. Atualmente, as diretrizes globais de tratamento incluem o uso de estatinas de alta potência imediatamente após um ataque cardíaco. Caso o paciente não responda adequadamente, também é receitado o tratamento complementar, com ezetimiba.  Ineficaz Porém, segundo Margrét Leósdóttir, professora da Universidade de Lund, na Suécia, e coautora do estudo, muitas vezes, o paciente sofre o segundo infarto ou morre antes de se receitar a terapia complementar. “Essa intensificação do tratamento leva muito tempo, é ineficaz e os pacientes são perdidos”, disse, em nota. “Ao administrar aos pacientes um tratamento combinado mais cedo, podemos ajudar a prevenir muitos outros ataques cardíacos.” No estudo mais recente, os pesquisadores analisaram os dados de pacientes com ataque cardíaco que receberam uma combinação de estatinas e ezetimiba (dentro de 12 semanas após o infarto), estatinas com ezetimiba adicionada posteriormente (entre 13 semanas e 16 meses) ou apenas estatina. O resultado mostrou que aqueles do primeiro grupo conseguiram reduzir o colesterol para o nível desejado precocemente, tiveram um prognóstico melhor e risco reduzido de novos eventos cardiovasculares ou de óbito, comparado aos demais.  Para os pesquisadores, muitos novos ataques cardíacos, derrames e mortes poderiam ser prevenidos a cada ano no mundo se a estratégia de tratamento fosse alterada. Em um cenário em que 100% dos pacientes recebessem ezetimiba precocemente, eles estimam que 133 infartos poderiam ser evitados em uma população de 10 mil pacientes em três anos. No Reino Unido, onde ocorrem 100 mil internações por causas cardiovasculares anualmente, isso equivaleria a prevenir 5 mil eventos em uma década, exemplificaram os autores.  Custos “No momento, pacientes não estão recebendo esses medicamentos juntos. Isso está causando ataques cardíacos e mortes desnecessárias e evitáveis — e também gera custos desnecessários para os sistemas de saúde”, destaca Kausik Ray, pesquisador da Escola de Saúde Pública do Imperial College London, em Londres, e coautor do estudo. “Nossa pesquisa mostra o caminho a seguir; os caminhos de tratamento devem agora mudar para os pacientes após esse tipo de evento cardíaco”, defende. No Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, 400 mil morrem por ano de doenças cardiovasculares, e o Sistema Único de Saúde (SUS) gasta mais de R$ 1 bilhão anualmente no tratamento de enfermidades do tipo.  Margrét Leósdóttir esclarece que a terapia combinada não é aplicada, inicialmente, por dois motivos: não consta das diretrizes atuais, e os médicos seguem o princípio de precaução. “Esse princípio é aplicado para evitar efeitos colaterais e excesso de medicação”, explica. “No entanto, há efeitos positivos na aplicação de ambos os medicamentos o mais rápido possível após o infarto. Não fazer isso acarreta um risco aumentado. Além disso, o medicamento que examinamos no estudo causa poucos efeitos colaterais, está prontamente disponível e é barato em muitos países.” Os autores esperam que o resultado da pesquisa sirvam de embasamento para mudar as recomendações globalmente. Na Suécia, um algoritmo tem sido usado para prescrever o tratamento para o “colesterol ruim” em pacientes que sofreram infarto do miocárdio. Segundo Leósdóttir, observou-se que os níveis desejados da gordura são atingidos mais cedo. “Dois meses após o infarto, o dobro de pacientes reduziu o colesterol ruim para o nível desejado”, relata. Perguntas para Noara Barros Ribeiro, cardiologista e intensivista, coordenadora da UTI Neurocardiológica do Hospital Anchieta, rede Kora Saúde Por que há risco elevado de novo episódio nos primeiros 12 meses após um infarto? Após um infarto agudo do miocárdio, há um aumento do risco de novos eventos cardiovasculares como reinfarto, isquemia recorrente e óbito, principalmente nos primeiros meses a um ano. Esse risco é devido a alterações biológicas que acompanham a síndrome coronariana aguda, como inflamação, disfunção endotelial e de coagulação e podem se elevar a depender de fatores como idade, alterações de enzimas cardíacas, alterações no eletrocardiograma, além da dislipidemia, tabagismo, diabetes, sedentarismo e dieta inadequada. No Brasil, a combinação dos medicamentos citados no estudo já é prescrita logo após o primeiro infarto? No Brasil, segundo as últimas diretrizes, ainda não é preconizada a associação de medicamentos de imediato após infarto agudo do miocárdio. A ezetimiba é indicada quando não se alcança a meta de LDL recomendada mesmo após dose máxima de estatina tolerada. Em um paciente classificado como muito alto risco cardiovascular, que inclui aquele pós-infarto agudo do miocárdico, a meta de LDL é menor do que 50mg/dL e de não HDL menor que 80mg/dL. Entretanto, o que se observa no

Probióticos para pele realmente funcionam?

Fonte: Correio Braziliense | Seção: Notícias | Imagem: Reprodução Internet | Data: 17/04/2025 As bactérias e fungos que vivem na pele desempenham um papel surpreendente na manutenção da nossa saúde. É possível estimulá-los? Se você arranhar a superfície da pele, vai encontrar uma comunidade de bactérias vivendo nela. Isso é uma coisa boa, à medida que as pesquisas mostram cada vez mais que ter o “tipo certo” de micróbios pode ajudar a manter nossa pele jovem, macia e suave por mais tempo. Simplesmente por estarem presentes, as “bactérias boas” nos protegem de infecções causadas por micróbios patogênicos e prejudiciais. Elas também ajudam a cicatrizar feridas, e podem até mesmo neutralizar alguns dos efeitos nocivos dos raios UV. Mais um motivo para cuidarmos do microbioma da nossa pele. Mas como podemos fazer isso? Um método que tem se tornado cada vez mais popular é o uso de probióticos tópicos para a pele — o que tecnicamente significa aplicar microrganismos vivos na pele para melhorar sua saúde. Já em 1912, cientistas esfregavam bactérias no rosto das pessoas na tentativa de melhorar condições como acne e seborreia — uma forma comum de dermatite que causa uma erupção cutânea vermelha, com coceira, além de escamas brancas ou amareladas. Atualmente, há dezenas de empresas de cuidados com a pele que vendem o que descrevem como produtos probióticos, de séruns a produtos para limpeza e hidratantes. Em todos os casos, os bálsamos oferecem o reequilíbrio do delicado microbioma da pele, deixando-a “renovada” e “revigorada”. No entanto, embora os produtos de cuidados com a pele frequentemente afirmem ser “probióticos”, muito poucos ou praticamente nenhum deles realmente contêm bactérias vivas. Além disso, como os tratamentos probióticos para a pele são classificados como “cosméticos” — e não como medicamentos, seus fabricantes não precisam compartilhar os resultados dos testes realizados com seus produtos. Por isso, é difícil saber quão eficazes eles são. “As regras relativas a produtos para cuidados com a pele são muito diferentes das regras relativas a medicamentos. Portanto, as alegações podem ser feitas com base em testes menos rigorosos do que seriam feitos para um agente farmacêutico”, explica Richard Gallo, dermatologista da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia em San Diego, nos EUA. A maioria dos produtos “probióticos” para cuidados com a pele contém prebióticos — nutrientes que alimentam e estimulam o crescimento de bactérias boas na pele — ou posbióticos — proteínas ou outros produtos produzidos por bactérias benéficas. “O que estamos vendo cada vez mais são abordagens que tentam influenciar o microbioma”, diz Bernhard Paetzold, cofundador e diretor científico da S-Biomedic, empresa que tem como objetivo tratar condições restaurando o microbioma da pele por meio de “transplantes” bacterianos. De acordo com Paetzold, a principal razão para isso é que é extremamente difícil manter as bactérias vivas durante todo o processo de fabricação, armazenamento e distribuição. Uma vez na pele, não há garantias de que elas vão se fixar, pois precisam lutar para competir com os milhões de outros micróbios que já vivem lá. A ideia de promover um microbioma saudável para a pele está enraizada na teoria de que as bactérias e os fungos que vivem na parte externa do nosso corpo ajudam a nos proteger daqueles que podem nos prejudicar. No entanto, a ciência por trás de como certas bactérias “nocivas” podem contribuir para doenças de pele ainda não é totalmente compreendida. O que sabemos é que pessoas com eczema, rosácea, acne e psoríase têm diferentes tipos ou níveis de determinadas bactérias vivendo em sua pele. “O que existe no momento são muitos artigos mostrando que quase todas as doenças de pele imagináveis estão associadas a uma mudança no microbioma da pele”, diz Paetzold. “Mas esta observação mostra apenas uma associação. Ela não diz que a mudança no microbioma causa a doença. Também pode ser que a doença mude o ambiente da pele, e é por isso que a população bacteriana muda.” Para provar que uma determinada cepa de bactéria está causando uma doença, você precisaria causar a doença de pele em uma pessoa saudável, aplicando as “bactérias nocivas” no rosto, ou curar a doença aplicando bactérias “boas”. Enquanto a primeira opção provavelmente esbarra em barreiras éticas, alguns pesquisadores estão tentando a segunda. Os poucos ensaios clínicos publicados mostram, no entanto, resultados promissores. A maioria se concentra no uso de bactérias vivas para tratar eczema, condição também conhecida como dermatite atópica. Eles se baseiam nas descobertas de que a pele de pessoas com eczema é dominada por Staphylococcus aureus, uma bactéria que muitas vezes pode ser patogênica. “Um dos grandes problemas da pele em doenças como eczema é que certas bactérias patogênicas, como a S. aureus, vivem na superfície da pele e causam erupções cutâneas, doenças e infecções”, diz Gallo, cujo grupo de pesquisa tem procurado maneiras de aproveitar o microbioma da pele para combater as bactérias nocivas que prosperam em pacientes com eczema. “Nós exploramos os tipos de bactérias que normalmente vivem na pele saudável, procurando bactérias que possam produzir coisas que combatam essas bactérias ruins”. A equipe de Gallo está se concentrando na Staphylococcus hominis, uma bactéria natural da pele que está presente em 21% das pessoas saudáveis, mas em apenas 1% dos pacientes com dermatite atópica. “Nossa pele oferece às bactérias comensais, como a S. hominis, um local seguro para viver, de modo que algumas delas desenvolveram uma maneira de proteger seu ambiente destas bactérias nocivas que estão tentando invadir”, explica Gallo. No caso da S. hominis, a bactéria produz peptídeos antimicrobianos — pequenos fragmentos de proteína — que matam diretamente a S. aureus. Ela também produz substâncias químicas chamadas “peptídeos autoindutores”, que impedem que as células bacterianas se comuniquem umas com as outras. Algumas bactérias, como a S. aureus, sinalizam umas para as outras quando sua densidade populacional atinge um determinado nível — um mecanismo conhecido como quorum sensing (sensor de quórum) — desencadeando a secreção de toxinas que podem causar inflamação na pele. Interromper esta comunicação pode impedir que as toxinas sejam liberadas. Em 2021, a equipe de Gallo conduziu um estudo controlado randomizado de fase um com 54 adultos com dermatite atópica, aplicando um creme contendo S. hominis viva ao longo de uma semana. Os