Pirâmide demográfica achata e vira obelisco: envelhecimento global traz desafios

Fonte: InfoMoney | Seção: Notícias | Imagem: Reprodução Internet | Data: 18/02/2025 Com maior número de idosos e as quedas de nascimentos, o que muda não é só o desenho demográfico, mas toda a economia mundial, diz estudo Anna França O envelhecimento da população associado às quedas da fertilidade na maior parte do mundo estão invertendo as estruturas etárias tradicionais. Com o surgimento de uma nova ordem populacional, de contrastes demográficos extraordinários, caem por terra as tradicionais pirâmides populacionais para surgir uma nova forma, mais parecida com um obelisco, bem mais achatada no piso. No entanto, mais do que uma mudança no desenho dos gráficos, esse novo momento ela traz uma profunda alteração na dinâmica mundial, impondo desafios para economia e para toda a humanidade. A primeira onda dessa mudança demográfica está atingindo economias mais desenvolvidas e até a própria China, onde a parcela de pessoas em idade produtiva cairá dos atuais 67% para 59% em 2050. Ondas posteriores atingirão até mesmo regiões mais jovens em uma ou duas gerações, como a América Latina e Ásia. A única exceção é a África Subsaariana, como mostram os dados da pesquisa “Enfrentando as Consequências de Uma Nova Realidade Demográfica”, feito pela consultoria McKinsey. A reformulação da estrutura etária das sociedades resulta em uma força de trabalho menor e em uma proporção crescente de idosos, que utilizam mais as estruturas previdenciárias e de saúde. “Nosso sistema econômico enfrenta um ponto de virada: sem aumento expressivo da produtividade ou mais horas trabalhadas, o crescimento do PIB global per capita pode desacelerar em até 0,8% ao ano”, explica a sócia-diretora do escritório da McKinsey no Brasil, Heloisa Callegaro. E no Brasil? Essa preocupação também é relevante para o Brasil, uma vez que, entre 1997 e 2023, a demografia contribuiu positivamente para o PIB per capita, com um incremento de 0,4 pontos percentuais ao ano. Entretanto, projeções indicam que, de 2023 a 2050, a transição demográfica poderá reduzir o PIB per capita em 0,3 pontos percentuais anuais, representando uma inversão preocupante. “É essencial que adotemos medidas para reverter essa tendência e assegurar um crescimento econômico sustentável.” No caso do envelhecimento da população, o Brasil está envelhecendo mais rápido do que muitos imaginavam. Com uma taxa de fecundidade de 1,62 filhos por mulher, já estamos num patamar abaixo da chamada taxa de reposição, de 2,1 filhos. O País deverá atingir o pico populacional em algumas décadas e, até 2100, projeta-se uma redução de 22% em sua população atual, de acordo com o estudo. “A redução da população em idade ativa está aumentando a pressão sobre a força de trabalho existente. O único caminho para manter o crescimento econômico será baseado em investimento em tecnologia e no aumento da produtividade”, afirma Heloisa, acrescentando que o Brasil terá apenas 16 anos até atingir o nível de envelhecimento das economias avançadas. Desse modo, em 2050 o índice de suporte (trabalhadores por idoso) será equivalente ao das economias ricas hoje. Entretanto nossa produtividade ainda é considerada baixa, ficando em média em US$ 18 por hora por trabalhador enquanto a média nos países de economias maduras é de US$ 60. Essa constatação traz de volta uma frase muito citada no passado recente, que dava conta que o Brasil iria ficar velho antes de ficar rico, ao contrários de grandes potências desenvolvidas. Nos últimos 25 anos houve um ‘milagre’ produtivo em várias partes do mundo, com uma média global de produtividade multiplicando-se por seis. Mas o mesmo não ocorreu na América Latina, onde o avanço foi tímido, não alcançando os 20%, segundo relatório do McKinsey Global Institute. “Além do aumento de produtividade, vamos precisar ampliar a participação da população no mercado produtivo, especialmente entre mulheres”, disse a diretora da McKinsey. A participação feminina na força de trabalho no Brasil chega a 66%, ficando abaixo da média dos países ricos, que é de 74%. Pressão na Previdência Com o esgotamento do chamado bônus demográfico, quando há mais pessoas para trabalhar do que aposentados, os desafios já são sentidos por toda a sociedade. A proporção de pessoas em idade ativa por idoso cairá de 6,5 para 2,8, elevando a pressão sobre famílias e a Previdência. A expectativa de vida global aumentou em sete anos, em média, desde 1997, chegando a 73 anos em 2023 e deve chegar a 77 anos em 2050. Aqueles com 100 anos ou mais são a faixa etária de crescimento mais rápido em termos percentuais, de acordo com as Nações Unidas. Esse aumento da longevidade pressiona como nunca os sistemas previdenciários devido, principalmente, à redução da proporção de trabalhadores na ativa em relação aos aposentados. Apesar de toda a atenção dada ao aumento da longevidade, o declínio da fertilidade determina de forma mais poderosa a demografia global. Dessa forma, sem reformas significativas, esses sistemas podem se tornar insustentáveis. Hoje, o Brasil tem 6,5 trabalhadores por aposentado, número que já foi 13,1, em 1997. Em 2050, esse número cairá para apenas 2,8 trabalhadores por aposentado. Sem o trabalhador jovem para financiar o idoso inativo, será preciso encontrar novas formas de refinanciar os sistemas previdenciário, na avaliação do professor de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Renan Pieri. “Além disso, o estado precisará destinar mais recursos para a saúde, porque as pessoas que vivem mais precisam de cuidados. Mas acima de tudo, com menos jovens, será preciso investir mais e melhor em educação para que, com melhor formação, estes jovens sejam mais produtivos”, afirma o professor. Herança difícil Ao confrontar as consequências da mudança demográfica, as sociedades entram em águas desconhecidas. Na ausência de ação, os mais jovens herdarão menor crescimento econômico e arcarão com o custo de mais aposentados, enquanto o fluxo tradicional de riqueza entre gerações se corrói. Práticas de trabalho de longa data devem mudar. Mas, fundamentalmente, os países precisarão aumentar as taxas de fertilidade para evitar o despovoamento, uma mudança social sem precedentes na história moderna. Queda de nascimentos Famílias em todo o mundo estão tendo cada vez menos filhos. Em grande parte do mundo, as taxas de fecundidade caíram abaixo da taxa de reposição necessária para
Por que produtos naturais nem sempre são melhores que sintéticos

Fonte: BBC Brasil | Seção: Notícias | Imagem: Reprodução Internet | Data: 15/02/2025 Antes de escrever esta reportagem, marquei horário na cabeleireira. Enquanto ajustava a capa de corte em torno do meu pescoço, ela apontava para o xampu que iria usar. “É uma linha nova, feita com 90% de ingredientes naturais”, explicou ela. O folheto anexo continha descrições resumidas de cada um dos produtos da linha. Um dos xampus continha extrato de figo-da-índia e outro usava frutos de açaí. Um terceiro incluía sementes de chia. Assim que entrei em casa, peguei os frascos de xampu que comprei e olhei mais detalhadamente a lista de ingredientes: álcool cetearílico, glicerina, cloreto de behentrimônio e miristato de isopropila. Todos são substâncias comuns, feitas em laboratório. Nenhum desses ingredientes me preocupava. Mas, mesmo sendo empregados em quantidades muito maiores do que qualquer um dos extratos de frutas, nenhum deles é destacado nos anúncios da marca. A tática empregada – aparentemente com sucesso, no meu caso – existe há séculos. Ela é adotada com frequência nas redes sociais, por marcas e influenciadores, e por políticos de todo o planeta. O chamado “apelo à natureza”, ou “falácia naturalista”, é um dos tipos mais comumente observados de falácias lógicas – falhas de raciocínio que podem fazer uma afirmação parecer surpreendentemente convincente. Sempre que você ouvir alguém afirmar que um produto ou prática é superior porque é “natural”, ou que outra é inferior (ou até prejudicial) porque não é “natural”, é porque a falácia naturalista está em andamento. Dela surgem os argumentos que defendem que determinado produto segue “os padrões da natureza”, ou que outra substância é ruim especificamente porque é “química” ou “sintética”. A natureza é maravilhosa em muitos aspectos e tem muito a nos ensinar. Mas por que algo não é necessariamente melhor apenas porque vem da natureza? A resposta é porque a natureza não tem intenções, pelo menos em sentido consciente. Ou seja, ela não tem a intenção de fazer o bem, ou de ajudar os seres humanos, especificamente falando. Não precisamos filosofar muito para chegar a esta conclusão. Basta considerar algumas das criações da natureza. O arsênio, por exemplo, é um produto natural que pode matar um ser humano adulto com uma dose de até 70 mg. Outro produto natural é o amianto, que é cancerígeno. O cianeto pode matar com até 1,5 mg por kg de peso do corpo, se for ingerido. Ele é uma fitotoxina, produzida naturalmente por mais de 2 mil espécies de plantas, incluindo as amêndoas, damascos e pêssegos. Por isso, alguns remédios “naturais” frequentemente comercializados podem, na verdade, ser perigosos para o consumo, como sementes de damasco moídas. Esta é a questão do uso da palavra “natural”, tão comum nos anúncios de diversos produtos. Trata-se de um termo mal definido, que não significa necessariamente que o produto será melhor, ou até mais seguro, do que outras opções. Uma pesquisa sobre produtos para a dentição dos bebês rotulados como “naturais” descobriu, por exemplo, que mais de 370 crianças sofreram efeitos adversos, como convulsões ou delírios. Os produtos continham níveis inconsistentes, às vezes elevados, de beladona. É claro que também podemos observar fenômenos naturais, além dos ingredientes empregados nos produtos. A varíola, por exemplo, chegou a matar uma em cada três pessoas infectadas pela doença. Este vírus de ocorrência natural foi responsável pela morte de uma quantidade surpreendente de pessoas – 300 a 500 milhões, somente no século 20 – até que foi erradicado graças à vacinação. A hera venenosa, a poliomielite, os tornados, as picadas de insetos e a eventual e inevitável morte do Sol que, um dia, irá pôr fim a toda a vida na Terra também são eventos naturais. No seu ensaio sobre a natureza, de 1874, o filósofo britânico John Stuart Mill (1806-1873) indicou que este é um dos principais problemas dos chamados “apelos à natureza”: Para ele, “ou será certo matar, porque a natureza mata; torturar, pois a natureza tortura; arruinar e devastar, porque a natureza assim o faz; ou não devemos considerar o que a natureza faz, mas sim fazer aquilo que é bom fazer”. Em outras palavras, se a premissa do apelo à natureza for correta e tudo o que for “natural” deve ser melhor, apenas porque é natural, precisaremos também estar dispostos a aceitar tudo o que a natureza traz. Caso contrário, provavelmente não acreditamos, na realidade, que tudo é inerentemente melhor quando é natural. Paralelamente, existem centenas de coisas que podemos considerar não naturais e que, na verdade, melhoraram muito a vida de muitas pessoas. Antes da medicina moderna, mais de uma a cada 100 mulheres morria ao dar à luz. Atualmente, nos países ricos e industrializados como o Reino Unido, morre uma mulher a cada 10 mil. Antes da difusão global das vacinas, a coqueluche matava uma a cada 10 crianças infectadas. Depois da vacinação, as mortes caíram para uma fração – mais especificamente, 1/157 – dos números anteriores. Até aqui, falamos apenas da medicina. Mas basta olhar em volta para observar dezenas de outros exemplos. Usar óculos, refrigerar os alimentos ou ligar o aquecimento no inverno, por exemplo, podem não ser ações “naturais”. Mas, para muitos de nós, é uma alternativa melhor do que andar por aí sem enxergar direito, deixar a carne estragar ou ter arrepios de frio no inverno. Grande parte dos alimentos que consumimos não chega até nós na mesma forma em que a natureza os apresenta. Nós os processamos e cozinhamos. A colheita, moagem e o processamento dos grãos ajudaram na transição que fez com que a nossa espécie deixasse de ser nômade, caçadora e coletora, passando a ser formada por agricultores estabelecidos, capazes de construir sofisticadas civilizações. O mesmo ocorreu com o nosso cultivo e cruzamento das plantas. Eles fizeram com que muitos dos alimentos nutritivos que consideramos “naturais” hoje em dia, desde a cenoura até a banana moderna, tenham aparência e sabor muito diferentes dos seus antepassagens silvestres. É claro que não estaria certo sugerir que os produtos fabricados pelo homem não nos causam problemas, como no caso da poluição gerada pelos plásticos sintéticos ou do uso
Como fazer resoluções de mudanças na vida e realmente cumpri-las

Fonte: BBC Brasil | Seção: Notícias | Imagem: Reprodução Internet | Data: 16/02/2025 Há alguma mudança que você gostaria de fazer na sua vida? Quem sabe finalmente escrever aquele romance em que vem pensando há anos. Ou talvez você ache que está na hora de começar a economizar dinheiro para viajar nas férias ou para dar entrada na compra de uma casa ou apartamento. Ou você simplesmente gostaria de melhorar seu condicionamento físico. Isso é maravilhoso. Mas todos nós sabemos que pode ser difícil se ater a esse tipo de mudança. Os números de matriculados nas academias de ginástica sugerem que metade dos alunos novos desiste em seis meses, e muitos de nós temos evidências de hobbies outrora amados espalhadas por nossas casas. Para escrever aquele livro, por exemplo, você vai precisar encontrar tempo para isso, e persistir quando a situação apertar, e o entusiasmo inicial tiver passado. Primeiro, você deve se perguntar por que está fazendo isso. Minha pesquisa analisa a psicologia de fazer mudanças por meio das lentes do que é conhecido como teoria da autodeterminação, que propõe que há diferentes formas de motivação. Elas vão desde, por exemplo, estar motivado a fazer algo porque alguém está obrigando você a fazer, até estar motivado porque você acha que é divertido. Olhando desta forma, as grandes mudanças, como se capacitar para uma nova carreira, e as menores, como participar de uma aula de ginástica semanal, são todas iguais. O que importa é o motivo que você tem para fazer isso. Encontre o motivo certo Você pode ter mais de um motivo para fazer uma mudança. Talvez você queira começar algo porque é uma tendência do TikTok, e todo mundo parece estar fazendo isso, ou talvez a sugestão esteja vindo de alguém que faz parte da sua vida. Estes são motivos externos para fazer algo, e este tipo de motivação tem menos chance de ser bem-sucedida. Concentre-se naquelas que estão “internalizadas”, que vêm de dentro de você. Se você conseguir encontrar uma razão pela qual a mudança é importante para você, e tiver sua própria motivação para colocá-la em prática, é muito mais provável que você se atenha a ela. Precisa ser algo que esteja alinhado com seus valores, algo em que você acredite. Assim, o que você está fazendo nem precisa ser algo de que você goste, desde que seja algo que você sinta que é importante para você. Pense na decisão de economizar dinheiro, por exemplo. Esta não é uma atividade inerentemente divertida para a maioria das pessoas, mas o ato de economizar pode ser importante devido ao que representa ou ao que isso leva — a viagem de férias ou a casa que você poderia comprar com o dinheiro que guardou. Quando começar a vacilar na sua meta, pensar neste motivo pessoal vai ajudar você a seguir adiante. Há dois outros conceitos importantes da teoria da autodeterminação misturados à ideia de uma ação alinhada aos valores pessoais. Quando você faz algo que vem dos seus valores, você deve estar agindo com autonomia — fazendo algo que quer fazer, não algo que outras pessoas obrigaram você a fazer. Esse é um conceito-chave na teoria, mas pode ser difícil alinhar com coisas como trabalho ou estudo. Talvez sua meta seja se dedicar ao trabalho ou tirar uma boa nota nos estudos. Mas a maioria das pessoas tem um chefe, ou orientador, e a função deles é instruir você sobre o que fazer. Se você é professor, precisa trabalhar de acordo com o horário da escola, quer goste ou não. Mas nos trabalhos em que estiver mais motivado, você poderá fazer algumas escolhas por si mesmo. O magistério é um exemplo interessante de quando isso não funciona, porque na Inglaterra esse trabalho bastante estruturado se tornou ainda mais estruturado nos últimos anos, coincidindo com um problema de recrutamento e retenção na profissão. A autonomia do professor é amplamente estudada e considerada importante, mesmo fora da teoria da autodeterminação, e a percepção da falta de autonomia é provavelmente um dos motivos pelos quais as pessoas podem querer deixar o emprego. De olho na meta O outro aspecto realmente importante é seu objetivo ao fazer a mudança. O melhor tipo de meta é uma meta autônoma, relacionada a algo que seja intrinsecamente importante para você. Pode ser competir em alto nível no seu esporte, porque isso vai te proporcionar alegria e satisfação por ser o melhor possível. Isso significa que você vai suportar as dificuldades e os desafios, e vai seguir adiante mesmo depois de um dia ruim. Por outro lado, se a sua meta for externa, você pode achar mais difícil. Isso inclui se você estiver fazendo algo para obter uma recompensa, em vez de porque algo é pessoalmente importante para você. Então, se você quiser escrever um best-seller para se tornar rico ou famoso, poderá descobrir que, conforme as coisas ficam difíceis, sua motivação diminui, e o trabalho estagna. Se você estiver fazendo algo porque outras pessoas querem que você faça, até mesmo pessoas que se importam com você, você vai ter dificuldade. Isso pode significar que algumas mudanças simplesmente não estão destinadas a acontecer — ou pode significar mudar sua mentalidade e como você encara as metas que almeja. Tente obter o apoio de pessoas que se importam com você, e com quem você se importa, sejam familiares e amigos ou uma nova comunidade no seu clube esportivo, por exemplo. E, finalmente, fique de olho nas suas metas. Qualquer mudança que você esteja fazendo por si mesmo, porque a valoriza e consegue enxergar os benefícios, provavelmente vai ser duradoura. * Abigail Parrish é professora de ensino de idiomas na Universidade de Sheffield, no Reino Unido. Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).
Por que é fundamental que a Justiça crie Varas especializadas em idosos

Fonte: G1 Bem Estar | Seção: Notícias | Imagem: Reprodução Internet/Freepik | Data: 11/02/2025 Como o Rio de Janeiro se tornou o primeiro estado a disponibilizar o serviço. Por Mariza Tavares — Rio de Janeiro Em 2017, escrevi uma coluna da qual não esqueci. Entrevistando a então juíza Maria Aglaé Tedesco Vilardo, ela questionava, com a assertividade que é sua marca registrada, por que os idosos faziam parte das Varas de Infância e Juventude: “é como comparar pediatras a geriatras e pedir que cuidem dos mesmos pacientes. Como um juiz é capaz de lidar com essa amplitude de casos, sem o foco que a questão do idoso exige?”. Corta para 29 de janeiro de 2025, quando foi criada a 1ª. Vara Especializada em Pessoas Idosas, uma iniciativa inédita que marcou o fim do mandato do desembargador Ricardo Rodrigues Cardozo como presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. A Vara ficará sob a responsabilidade da juíza Cláudia de Oliveira Motta, que declarou que o foco será atender aos idosos em situação de vulnerabilidade – vítimas de maus-tratos, negligência familiar e até golpes financeiros – que não tenham como garantir seus direitos. De acordo com o IBGE, o índice de envelhecimento do estado é o segundo maior do país: há 1.4 milhão de habitantes com 65 anos ou mais, sendo 892 mil na capital. O Rio de Janeiro saiu na frente e, apesar da demora, a iniciativa merece ser festejada e replicada em todo o território nacional. Voltar um pouco no tempo também ajuda a dar a dimensão do esforço para viabilizar o projeto. Nos bastidores, a ação da agora desembargadora Maria Aglaé Tedesco Vilardo foi fundamental. Depois de concluir um doutorado em bioética em 2014, ela passou a presidir, a partir de 2017, o recém-criado Fórum de Biodireito, Bioética e a Gerontologia da Escola de Magistratura do Rio de Janeiro. De quebra, coordenava um mestrado profissional em justiça e saúde, em parceria com a Fiocruz, com uma disciplina exclusiva sobre envelhecimento. “Temos que nos preparar para o momento da virada, quando o Brasil será um país com número expressivo de velhos. Principalmente, temos que nos despir de preconceitos e adotar uma postura de respeito”, argumentou na época. Para celebrar o êxito dessa longa jornada, fiz três perguntas para a magistrada: Por que os mais velhos devem ter uma Vara de Justiça integralmente dedicada a eles? A vulnerabilidade da pessoa idosa fica invisível perante a sociedade porque, muitas vezes, acontece em sua própria residência. Cuidar para que a pessoa idosa seja protegida é dever do Estado, da sociedade e da família. Temos que fazer com que casos graves de ausência de cuidados da família sejam expostos e providências legais sejam tomadas. Quais são as prioridades da 1ª. Vara Especializada em Pessoas Idosas recém-criada no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro? As prioridades são no sentido de fazer com que casos de violência de qualquer tipo contra pessoas idosas sejam noticiados e a sociedade entenda a importância de alertar as autoridades para essas situações. O envelhecimento da população provavelmente vai trazer desafios adicionais para a Justiça. Como preparar o Judiciário para julgar casos complexos envolvendo idosos? Comecei a estudar o tema através da troca de conhecimento com outras áreas profissionais, como a da saúde. Cabe aos juízes e juízas estudarem o assunto profundamente e trocar os saberes do direito com os de outros setores, para compreender melhor esse universo. Só assim aprendemos a respeitar a autonomia outros direitos.
A radical teoria pós-quântica, que tenta responder o que Einstein não conseguiu

Fonte: BBC Brasil | Seção: Notícias | Imagem: Reprodução Internet | Data: 21/12/2024 “Uma nova moda surgiu na Física“, queixou-se Albert Einstein no início da década de 1930. Essa “moda” era nada menos que a física ou a mecânica quântica. A sua mera existência colocou em perigo a teoria da relatividade geral, a maior criação de Einstein, publicada em 1915. “Se isso tudo for verdade, então significa o fim da Física”, chegou a dizer o famoso cientista. O ponto aqui é que a física quântica e a relatividade geral são incompatíveis. Quase 100 anos se passaram e nenhuma das duas teorias cancelou a outra. Na verdade, ambas formam os pilares de todos os avanços da Física moderna. A física quântica provou repetidamente ser a melhor explicação do comportamento das menores partículas do universo, como elétrons, glúons e quarks que constituem os átomos. Por sua vez, a relatividade geral, que é a moderna teoria da gravidade, provou ser a melhor descrição de tudo o que acontece em grande escala, desde o funcionamento do Sistema Solar e dos buracos negros até a origem do universo. No entanto, elas permanecem contraditórias entre si. Ou seja, as regras da relatividade geral funcionam perfeitamente para as galáxias, bem como para tudo o que nos rodeia e é visível: uma árvore, um gato, uma pérola… Porém, assim que analisamos o comportamento de algo tão pequeno como um átomo, tudo muda. Os pesquisadores não conseguem nem usar a mesma Matemática para explicar uma teoria e outra. De alguma forma, a natureza consegue fazer com que os dois sistemas coexistam — mas a Ciência ainda não fez o mesmo. Para muitos, esta incompatibilidade é a maior questão sem resposta da Física. Einstein e milhares de outros pesquisadores em todo o mundo procuraram criar uma teoria que unisse a física quântica e a relatividade geral. É o que muitos chamam de “teoria de tudo”, um nome tão atraente que virou título do premiado filme biográfico de Stephen Hawking, um dos renomados cientistas que tentaram — também sem sucesso — encontrar o “Santo Graal” da Física. Agora, uma nova teoria propõe uma virada radical nesta charada secular. Seu nome, porém, é menos mercadológico: ela é chamada de teoria pós-quântica da gravidade clássica e é liderada pelo físico Jonathan Oppenheim, do Instituto de Ciência e Tecnologia Quântica da Universidade College London (UCL), no Reino Unido. Trata-se de algo tão revolucionário que mesmo alguns dos seus detratores reconhecem que essa é a primeira abordagem verdadeiramente original a surgir em pelo menos uma década. A quarta força fundamental Embora possa parecer contraditório, um dos aspectos mais inovadores da teoria de Oppenheim é o termo “clássico” em seu nome. Até agora, a abordagem predominante para resolver a incompatibilidade entre a física quântica e a relatividade geral envolve modificar o último sistema para ajustá-lo ao primeiro. É o que os físicos chamam de “quantização”, porque no final ela se converte numa teoria quântica. “Quantizar” a relatividade geral faz ainda mais sentido se pensarmos que é algo que os cientistas já conseguiram fazer com as outras três forças fundamentais que governam o universo: a força nuclear fraca, a força nuclear forte e a força eletromagnética. Mas eles simplesmente não conseguiram fazer o mesmo com a gravidade — e não foi por falta de tentativa. “É um problema matemático muito difícil”, contextualiza Oppenheim à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC. “Mas também é conceitualmente complicado, porque essas duas teorias têm diferenças tão fundamentais que é muito difícil conciliá-las.” Ele explica: “Quase todas as tentativas assumiram que devemos ‘quantizar’ a gravidade. A minha sensação sobre a razão pela qual essa tarefa tem sido tão difícil é que talvez não seja possível e que apontamos para a coisa errada.” Por isso, o pesquisador e a equipe dele decidiram mudar o foco e “modificar um pouco, ou muito, a teoria quântica, para que esses dois sistemas possam se encaixar”. Na nova teoria, publicada em dezembro de 2023 nas revistas Nature Communications e Physical Review X, a relatividade geral continua a ser uma teoria não quântica, ou clássica. A física Sabine Hossenfelder, do Centro de Filosofia Matemática de Munique, na Alemanha, que não fez parte da pesquisa da UCL, diz à BBC News Mundo que a ideia de Oppenheim “é muito legal”. “É muito raro neste campo ver nascer uma nova ideia”, observa a especialista. Hossenfelder fez parte de um comitê que revisou a teoria há seis anos e, embora a achasse interessante, considerou que ela era “muito especulativa, imatura e vaga”. “Tinha tantas pontas soltas que parecia que poderia falhar completamente, por isso fiquei muito impressionada quando vi o que saiu vários anos depois, porque abordava quase todos esses pontos levantados”, diz ela, que esclarece com um sorriso “sempre ter algo a comentar e a observar”. Dois conceitos básicos e um ‘inaceitável’ Antes de seguir a explicação sobre a teoria de Oppenheim, é importante compreender o conceito básico da relatividade geral e uma das características da física quântica que mais perturbou Einstein. O que Einstein fez para revolucionar a Ciência em 1915 foi definir a gravidade como “uma deformação do espaço-tempo”. A maneira mais fácil de compreender esse conceito é pensar em um trampolim onde colocamos uma bola pesada — por exemplo, uma bola de bilhar. Quando uma coisa dessas acontece, o tecido afunda no local onde a bola está. Agora, imagine jogar nesse mesmo trampolim uma bola mais leve (uma bola de gude), e tentar fazê-la girar na borda da curvatura do tecido relacionada ao peso da bola mais pesada. O que acontece é que a bola de gude vai se mover em círculos cada vez menores, aproximando-se da bola de bilhar. Segundo a teoria da relatividade geral, isso não acontece porque a bola de bilhar exerce sobre a bola de gude uma força de atração invisível, mas porque o formato do tecido — ou melhor, a sua deformação — a obriga a fazer essa curvatura. Na teoria de Einstein, o espaço-tempo faz a mesma coisa de forma quadridimensional — de modo que a Terra gire em torno do Sol, por exemplo. Oppenheim explica que,
Você se irrita ao ver alguém inquieto? Pode ser misocinesia

Fonte: BBC Brasil | Seção: Notícias | Imagem: Reprodução Internet | Data: 16/12/2024 “Se eu vir alguém batendo os dedos em uma mesa, meu pensamento imediato é cortar os dedos da pessoa com uma faca”, confidenciou um paciente anônimo a um pesquisador. “Quando vejo alguém fazendo movimentos repetitivos muito pequenos, como meu marido dobrando os dedos dos pés, me sinto fisicamente mal. Eu seguro, mas tenho vontade de vomitar”, afirmou outra. Parece familiar? Se sim, talvez você também tenha uma condição chamada misocinesia — uma aversão à inquietação ou movimento diagnosticável. Os cientistas estão se esforçando para entender mais sobre o fenômeno que, até o momento, não tem causa conhecida. Na pesquisa mais recente, publicada na revista científica PLoS One, os especialistas realizaram entrevistas aprofundadas com 21 pessoas que fazem parte de um grupo de apoio às pessoas com misocinesia. Os gatilhos mais comuns registrados foram os movimentos das pernas, das mãos ou dos pés — como balançar as coxas, mexer os dedos e arrastar os sapatos. Clicar na caneta e enrolar o cabelo também foram identificados como gatilhos, embora não com a mesma frequência. Muitas vezes, as pessoas relataram alguma sobreposição com outra condição mais conhecida, chamada misofonia — uma aversão intensa aos ruídos de outras pessoas, como a respiração pesada ou o barulho da mastigação. É impossível saber exatamente quantas pessoas podem estar sofrendo de misocinesia. Um estudo canadense recente sugeriu que talvez um em cada três de nós possa ser afetado negativamente pela inquietação de outras pessoas, vivenciando sentimentos intensos de raiva, tortura e repulsa. Conversei com Jane Gregory, psicóloga clínica da Universidade de Oxford, no Reino Unido, que tem estudado e tratado tanto a misocinesia quanto a misofonia. “As duas andam juntas com muita frequência. Muitas vezes, as pessoas têm as duas ao mesmo tempo”, diz ela à BBC News. Embora não haja dados confiáveis, Gregory afirma que as condições são provavelmente surpreendentemente comuns. “Obviamente, as pessoas têm vivenciado isso há muito tempo, mas simplesmente não havia um nome para isso.” Segundo ela, a gravidade da aversão das pessoas à inquietação varia. “Algumas pessoas podem ficar realmente incomodadas com a inquietação ou com movimentos repetitivos, mas isso não afeta muito a vida cotidiana”, diz ela. Outros, no entanto, podem “ter uma reação emocional muito forte — raiva, pânico ou angústia — e simplesmente não conseguem filtrá-las”. No trabalho de Gregory, ela tende a encontrar pessoas com sintomas mais extremos. Muitos são adultos que sofrem de misocinesia há anos, mas alguns estão no início da adolescência e vivenciando a condição pela primeira vez. ‘Simplesmente explode dentro de você’ Andrea, de 62 anos, diz que desenvolveu misofonia e misocinesia aos 13 anos, mas que isso não foi reconhecido na época. Uma de suas primeiras lembranças da condição é a de ter ficado angustiada com uma menina na escola que estava cutucando as unhas. “A maior parte da misocinesia tende a focar nas mãos das pessoas — no que elas estão fazendo com as mãos e o que estão tocando”, explica. Outro gatilho para ela é quando as pessoas cobrem parcialmente a boca com a mão enquanto falam — ela se esforça para ver, e sente que sua própria boca está ficando dolorida quando faz isso. Andrea afirma que a raiva que ela sente é explosiva e instantânea. “Não há nenhum processo racional nisso. Não há lógica. Simplesmente explode dentro de você, e é por isso que é tão angustiante.” Ela me disse que tentou diferentes estratégias para gerenciar sua condição, mas não consegue bloqueá-la. Agora, ela se protege da sociedade, morando sozinha e trabalhando de casa, e diz que toda a sua vida foi projetada para evitar as coisas que poderiam perturbá-la. Andrea conta que tem muitos amigos que a apoiam, e que entendem que, às vezes, ela precisa mudar a forma como interage com eles. “É mais fácil simplesmente se retirar. Tentar sobreviver. Você não pode ficar pedindo às outras pessoas que não façam as coisas.” Ela explica que não culpa os outros por sua inquietação, e entende que a maioria das atitudes das pessoas não é intencional — e, sim, realizada pela força do hábito. Andrea diz que compartilhar suas experiências com um grupo de apoio no Facebook tem sido de grande ajuda. ‘Eu fico com muita raiva’ Jill, de 53 anos, é outro membro desse grupo. Ela relata que a misocinesia faz seu coração disparar. “Qualquer coisa pode ser um gatilho para mim, desde balançar as pernas até a aparência e a forma como alguém segura o garfo.” “Eu fico com raiva, muita raiva”, acrescenta. “Meu coração começa a bater muito rápido. É como uma [reação de] luta ou fuga.” Bola de ansiedade Julie, de 54 anos, diz que a principal sensação que tem por conta da misocinesia é a angústia. “Outro dia, eu estava no ônibus, e havia uma senhora passando, e seus dois braços estavam balançando. Eu não conseguia tirar os olhos dela. Eu estava ficando muito ansiosa com isso, não com raiva.” “São coisas bobas, como alguém que está preparando uma xícara de chá para mim, e pega o saquinho de chá e balança para cima e para baixo, para cima e para baixo, para cima e para baixo. Por quê?” “Ou se alguém estiver sentado balançando a perna. Não consigo tirar os olhos. E, se eu desviar o olhar, tenho que olhar para trás para ver se a pessoa ainda está fazendo isso.” Ela contou à BBC que a sensação desagradável que se segue pode consumi-la por horas. “Não sou uma pessoa irritada. Isso só me faz sentir como se houvesse uma bola no meu estômago prestes a explodir. Não é raiva, é um sentimento interno de ansiedade.” Julie afirma que não tem receio de pedir às pessoas que parem de fazer algo que ela está achando angustiante — mas, em vez disso, ela tende a se afastar. Ela me diz que a misocinesia a deixa infeliz. “Me faz internalizar isso. Não gosto de mim mesma por me sentir assim.” Suricato interior hipervigilante Gregory destaca que a condição pode ser extremamente debilitante, e impedir
90 anos sem Carlos Chagas: veja cinco curiosidades sobre o médico

Fonte: CNN Brasil| Seção: Notícias | Imagem: Reprodução Internet/CNN Brasil Data: 09/11/2024 Médico que descobriu a Doença de Chagas viveu 55 anos e morreu após sofrer um infarto, no Rio de Janeiro A morte do médico sanitarista e infectologia Carlos Chagas completa 90 anos nesta sexta-feira (8). O mineiro é um dos principais nomes da história da medicina brasileira e foi o responsável por descobrir e descrever a Doença de Chagas, batizada em sua homenagem. Também conhecida como tripanossomíase americana, ela é uma enfermidade negligenciada, mas potencialmente fatal, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi. O protozoário é transmitido principalmente por insetos vetores conhecidos como barbeiros. A doença também pode ser transmitida oralmente, por meio da ingestão de alimentos contaminados com fezes de barbeiros infectados, como caldo de cana e açaí, ou ainda por via materno-fetal, transfusões sanguíneas e transplantes de órgãos. Formado na esteira de uma grande modernização sanitarista do Rio de Janeiro, ele foi amigo de Oswaldo Cruz e aluno de Miguel Couto, dois dos grandes expoentes da área. Carlos Chagas viveu 55 anos e morreu após sofrer um infarto, no Rio de Janeiro. 1 – Homenageou a Oswaldo Cruz com protozoário Carlos Chagas homenageou o também sanitarista Oswaldo Cruz ao batizar o protozoário da Doença de Chagas, Trypanosoma cruzi. Ele também assumiu o comando do Instituto Oswaldo Cruz após a morte do amigo. 2 – Único cientista a descrever completamente uma doença Ele é, até hoje, o único cientista do mundo a descrever completamente uma doença, incluindo os seguintes aspectos: 3 – Combate à malária Chagas foi recrutado por Oswaldo Cruz para acabar com um surto de Malária que assolava os trabalhadores da Companhia das Docas do Estado de São Paulo, que, na época, construíam uma barragem na cidade de Itatinga, no interior paulista. Ele descobriu que a ação deveria ser focada no combate ao mosquito que causava a doença e serviu de exemplo para o mundo inteiro. 4 – Expedição na Amazônia Foi Chagas também quem integrou uma missão do Instituto Oswaldo Cruz, de 1910, à Amazônia. A ideia era visitar a população ribeirinha e fazer um diagnóstico das condições sanitárias às quais estavam submetidas as pessoas que viviam ali. Na época, a região também era atingida por uma epidemia de Malária. A viagem serviu de base para fortalecer o movimento que defendia o saneamento das áreas rurais do Brasil. 5 – Indicado ao Nobel O médico foi duas vezes indicado ao Prêmio Nobel de Medicina, em 1913 e 1921. Cientistas defendem que Chagas não foi laureado por conta de um costumeiro prestígio com o qual o comitê do prêmio tratava pesquisadores europeus e norte-americanos. Na primeira indicação, ele perdeu para o francês Charles Robert Richet, que pesquisava sobre a anafilaxia. Na segunda vez, o prêmio não foi entregue.