Fonte: CBN | Seção: Notícias | Imagem: Reprodução Internet/CBN Data: 04/11/2024
Longa estreia nos cinemas no dia 7 de novembro e é inspirado nos poemas de Vinícius de Moraes.
Quando ainda era vivo, o poeta Vinícius de Moraes sempre teve um sonho de fazer um álbum musicado de seus poemas clássicos infantis de “Arca de Noé”. Entre algumas das escritas famosas estão a de “A Casa”, “O Pato”, “O Leão” e “Corujinha”. O artista morreu em julho de 1980 e não teve a chance de ver, em outubro daquele mesmo ano, a recepção com o lançamento do álbum de suas canções, que se transformaram em icônicas para toda uma geração.
Passados 30 anos do lançamento, já nos anos 2010, Suzana de Moraes, filha mais velha de Vinícius, teve a ideia de transformar esses poemas em um filme. Ela procurou, então, o cineasta Walter Salles com o projeto, que chamou imediatamente o diretor Sergio Machado, com quem trabalhou junto em “Central do Brasil”.
“Uma coisa que o Walter notava é que eu sempre estava no set cercado de crianças. E aí lembro que ele falava ‘um dia você vai fazer um filme infantil’. Quando me chamaram, em um primeiro momento eu achei estranho, especialmente por trabalhar em um projeto que está no imaginário brasileiro há tantos anos. Mas quando conheci a Suzana, decidi que deveria fazer”, conta à CBN o diretor de “Cidade Baixa” e “Quincas Berro D’Água”.
A trajetória foi longa. Isso porque não dava para “Arca de Noé” ser um projeto pequeno. Por isso, de forma imediata, ele foi pensado para ser uma animação, que era mais possível pelas possibilidades de financiamento e por ser destinado ao público infantil. Com isso em mente, Sergio começou a escrever o roteiro, chegando a contar com colaborações de Heloísa Périssé e Ingrid Guimarães ao longo dos anos.
Com tudo escrito, ficou a dúvida de como seria a animação. Novamente, a grandiosidade tomou conta e houve uma parceria entre Brasil e Índia (a primeira da história no audiovisual), país que foi responsável por praticamente toda a realização dos desenhos. Além disso, a produtora dos Estados Unidos CMG também entrou no jogo, colaborando na parte de captação de recursos.
O projeto é estimado em US$ 6 milhões (cerca de R$ 34 milhões), como relevado pela Gullane Filmes (produtora do filme) em um painel na Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis. O valor tem um motivo bem específico: a complexidade na animação, que mistura elementos 3D e 2D, o que foi encarecendo ao longo do tempo.
“É um filme que é um mega desafio técnico, uma coisa que só poderia realmente acontecer agora, especialmente pelo acesso a tecnologia. No total, foram mais de 1.500 pessoas envolvidas”, comenta o co-diretor Alois Di Leo, responsável diretamente pela parte da animação.
Com o alto investimento, o longa busca quebrar um recorde que persiste desde 1982: a de ser a animação brasileira com mais público no cinema do país. O título ainda é de “As Aventuras da Turma da Mônica”, que levou 1,172 milhão de pessoas para as salas naquele ano.
Aliás, apesar de animações americanas fazerem sucesso por aqui – “Divertida Mente 2” se tornou, em 2024, o filme mais visto no Brasil em todos os tempos, com mais de 20 milhões de ingressos comercializados -, as animações nacionais nunca tiveram uma constância com o grande público. O filme da criação de Maurício de Souza é o único que passou de um milhão de pessoas, por exemplo.
A história da animação segue a base da trama bíblica da Arca de Noé, mas com algumas alterações. A principal delas são os protagonistas: os ratinhos Tom e Vini (uma referência a Tom Jobim e Vinícius de Moraes, assim como os mascotes da Olimpíada Rio 2016). Na proximidade de um grande dilúvio em que podem entrar na arca apenas um macho e uma fêmea, os dois tentam dar um jeito de sobreviver e entrarem juntos na arca, precisando ainda enfrentar o leão controlador Baruk.
Em meio a isso, convivem com diversos outros animais e a busca por se manter um longo tempo no mar com pouca comida. Isso tudo recheado, é claro, das clássicas músicas.
A escolha para a dupla principal foram de dois grandes nomes: Rodrigo Santoro como Vini e Marcelo Adnet como Tom.
“Para mim, o maior desafio foi cantar em um tom que não era meu. Como minha voz é grave, tive que usar muita técnica para chegar nesse lugar. E, ao mesmo tempo, foi muito divertido porque foi um processo de muito improviso, especialmente com o Marcelo [Adnet]. A gente tinha muita liberdade para trabalhar, mas, ao mesmo tempo, com responsabilidade, porque estamos levando a obra do Vinícius para uma nova geração”, diz Santoro.
De acordo com ele, o filme consegue dialogar tanto com os que já conhecem Vinícius de Moraes, como para as novas gerações, já que as músicas tem arranjos contemporâneos “para o público de hoje”.
Adnet tem uma conexão direta com a música, inclusive enquanto compositor de escolas de samba. Ele destaca que, quando o poeta criou os textos de Arca de Noé, “o mundo não era feito para as crianças”.
“Hoje em dia, uma criança tem um mundo, um mercado inteiro para ela, uma parcela da indústria. Então, assim, eu acho que o mundo é muito mais para a criança hoje. Então, fizemos com muito amor o filme para elas”.
Ao todo, foi um processo de dois anos de dublagem e que envolveu idas e vindas e, como dito por Rodrigo Santoro, muita improvisação. Como com o vilão Baruk, feito por Lázaro Ramos, que recebia parte do material de Sérgio Machado antes de entrar no estúdio e foi criando a partir disso. A inspiração foi diretamente das telenovelas brasileiras, com Odorico Paraguaçu, escrito por Dias Gomes para “O Bem Amado”.
“Quando chegou no dia, eu fiquei muito feliz, porque ele disse ‘vamos criar uma coisa nova juntos’ e fiquei extremamente animado”.
O elenco de “Arca de Noé” ainda conta com Alice Braga, Gregório Duvivier, Julio Andrade, Bruno Gagliasso, Giovanna Ewbank, Eduardo Sterblitch, Marcelo Serrado, Seu Jorge, Ingrid Guimarães, Heloisa Périssé, Débora Nascimento, Monica Iozzi, Babu Santana, Luis Miranda, Leandro Firmino, Daniel Furlan, Adriana Calcanhotto, entre outros.
A animação estreia nos cinemas no dia 7 de novembro.