Veículo: R7| Página: Online| Seção: Economia | Imagem: Reprodução Internet| Data: 09/05/22
Bolsas no mundo estão sendo abaladas por um cenário pós-pandemia com inflação alta e problemas na cadeia de suprimentos
Os recuos podem ser explicados pelo cenário global conturbado. Segundo a analista da XP Jennie Li, “os riscos de recessão crescentes estão preocupando os investidores”. O cenário global é de juros altos, com o objetivo de controlar inflação. E há os impactos na cadeia de suprimentos global causados pela guerra na Ucrânia e os lockdowns na China.
Diante das incertezas, especialistas esperam maior volatilidade da Bolsa, pelo menos nos próximos meses.
O conflito entre Rússia e Ucrânia, dois importantes produtores de commodities, e as rígidas restrições na China causaram problemas de demanda mundial, principalmente para as economias que vinham em um processo de retomada pós-pandemia. Como consequência, a inflação disparou e uma política monetária mais agressiva foi necessária, o que causou dúvidas sobre as expectativas de crescimento.
“Estamos em um cenário de incerteza, nós vamos observar na Bolsa esses impactos um pouco mais duradouros, ela reage ao PIB [Produto Interno Bruto]. Então a gente tende a ver essas quedas por mais alguns meses”, explica Sampaio.
Depois de uma alta na última quarta-feira (6), dia de aumento na taxa de juros do Brasil e dos Estados Unidos, o Ibovespa subiu 1,7% e chegou aos 108.344 pontos. Mas a animação do mercado com a decisão do Fed (Federal Reserve) de incrementar os juros dentro do esperado pelos investidores, em 0,5 ponto percentual, durou pouco.
A Bolsa brasileira e Wall Street voltaram a cair na quinta-feira (5), em meio à estreia da alta de juros nos dois países. O Ibovespa praticamente zerou os ganhos no ano, que ficaram em 0,46%, depois de terminar o dia com queda de 2,81% e 105.304 pontos, o pior patamar desde janeiro. Até o início de abril, o índice chegou a ter ganho parcial no ano de 16%. Na sexta-feira (6), fechou a semana com recuo de 0,16%, a 105.134,73 pontos.
“A gente viu os mercados reinterpretando a decisão do Fed [banco central americano], basicamente precificando uma alta de juros mais agressiva para controlar a inflação por lá e isso tem causado essas quedas no mercado lá fora e a gente tem ido junto com o humor dos investidores globais”, explica Jennie Li.
Com o incremento de 1 ponto percentual na taxa de juros no Brasil, a Selic chegou ao maior patamar desde 2017 (12,75%), o que causou uma fuga de capitais da Bolsa. “Isso acaba aumentando bastante a atratividade em renda fixa e diminuindo a atratividade de investimentos em renda variável como é o caso da Bolsa de Valores”, explica Sampaio, professor da FGV.
“A gente pode analisar que a Bolsa de Valores e a renda fixa são competidores. Elas competem pelo dinheiro do investidor. Quanto mais alta a taxa de juros, maior o fluxo de capitais para esse tipo de investimento, já que a renda fixa tem menos risco”, completa o economista-chefe da G11 Finance e professor do Mackenzie Hugo Garbe.
Até o momento, a volta da Bolsa aos patamares anteriores a abril vai depender da melhora do cenário internacional. “Tendo melhoria de cenário, ela pode reagir positivamente. Mas como a gente tem expectativa de continuar com incertezas, pelo menos no primeiro semestre, a gente vai ver uma Bolsa bem volátil”, projeta Sampaio.
Garbe considera que a melhora pode vir somente nos próximos anos. “Nós vemos na economia brasileira e mundial o que chamamos de tempestade perfeita, nós saímos da pandemia com a economia abalada e inflação, depois veio incremento dos juros, guerra na Ucrânia, entre outros fatores. O mais importante para que essa queda não se acentue ainda mais é uma redução da taxa de juros no mundo todo, o que só deve acontecer a partir de 2023, quando a Bolsa deve recuperar um patamar mais ameno.