RIO – Disposta a abandonar o papel de sócia majoritária nas empresas em que investe, a Previ está adotando medidas que visam à transição para uma carteira pulverizada mas onde possa desempenhar o papel de “ativista” – o sócio que, de fora do bloco de controle, pressiona por melhorias na gestão. O fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, o maior do país, está finalizando uma metodologia de classificação de risco (rating) própria que terá como principal critério a governança corporativa. A Previ também passará a exigir reuniões exclusivas com diretores financeiros de empresas onde a Previ é minoritária na ocasião da divulgação dos resultados trimestrais – a primeira experiência aconteceu este mês com a BRF, da qual detém 10,67% do capital.
As novas práticas integram a estratégia de investimento que a Previ está revisando para implementar nos próximos sete anos. Segundo o presidente Gueitiro Genso, um dos principais objetivos é reduzir, nesse período, de 46,9% para algo em torno de 30% a participação de ações no total investido pelo fundo, que soma hoje R$ 180,9 bilhões.
‘Não queremos mais bloco de controle’
Paralelamente, a Previ buscará pulverizar a carteira. Hoje, apenas 12 companhias respondem por quase 94% do portfólio de ações. Para Gueitiro, é possível que em 2023 esse número suba para 40.
A mudança se faz necessária diante da maturidade do Plano 1, o mais antigo do fundo e do modelo Benefício Definido (BD). Dos 114,3 mil participantes do plano, apenas 11,3 mil estão na ativa, sendo que 5 mil já podem se aposentar hoje, caso desejem. Mas a previsão é que o plano precisará pagar benefícios para aposentados e pensionistas até 2090. Diante desse desafio, a Previ precisará ter liquidez – ou seja, investimentos dos quais pode se desfazer a qualquer momento. Nos casos em que a participação do fundo é muito grande, isso é inviável, uma vez que qualquer venda relevante dos papéis em Bolsa teria impacto negativo no seu valor.
– Não queremos mais estar em nenhum bloco de controle – afirmou Genso.
A redução da participação em renda variável e a busca pelo papel de minoritária prevê a venda gradual de ações. Um dos exemplos é sua posição na Vale, de 15,68%. A aprovação este ano de novo acordo de acionistas da mineradora, que prevê o fim do bloco de controle, liberou a Previ para se desfazer de sua participação. A partir de fevereiro do ano que vem, cerca de 50% do investimento já estarão livres para negociação.
– A Vale atende todos os nossos critérios de investimento, mas nossa estratégia é sair de blocos de controle. A venda dos nossos papéis da Vale, porém, será feita de forma gradual, e tudo será decidido em conjunto com os outros acionistas, em um movimento coordenado. Mas, por enquanto, isso não está definido – contou o presidente da Previ.
Paralelamente à redução de participação, a Previ buscará pulverizar a carteira comprando papéis de um número maior de empresas. Para isso, usará a governança corporativa como principal critério, além de quesitos como liquidez e pagamento generoso de dividendos. Por isso a ideia do fundo é utilizar o novo rating a partir de 2018, na política de investimentos que valerá pelos próximos sete anos.
A Previ acredita que esse modelo de rating poderá ser adotado por outros fundos de pensão. O rating vai levar em consideração fatores como presença de membros independentes no conselho de administração das empresas, adesão ao Novo Mercado (nível mais alto de governança entre as empresas listadas na B3) e transparência na forma como as companhias se comunicam com o mercado.
A Previ também afirma que irá considerar se a companhia tem um Programa de Integridade efetivo. Além disse, promete checar os registros do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS) e do Cadastro Nacional de Empresas Punidas (CNEP), ambos da Controladoria Geral da União (CGU).
FONTE: Site O GLOBO