“Verás que um filho teu não foge à luta.
Nem teme, quem te adora, a própria morte.”
“Muita calma nessa hora!” Aproprio-me da expressão tão popular, que inclusive virou título de filme brasileiro, de 2010, para fazer algumas reflexões sobre o momento especial que ora vivemos, em nível mundial, nacional e no seio das entidades BB, em especial da CASSI. O intuito desses escritos é lembrar àqueles e àquelas que nos lerem, que não estamos isolados no mundo e, portanto, as questões que nos afetam fazem parte de um contexto maior.
No contexto mundial, líderes portadores de altíssimos níveis de complexo de Narciso, aquele que na mitologia grega apaixonou-se pela própria imagem refletida nas águas, tendem a “morrer e desaparecer” ao longo da marcha inexorável do tempo, ficando no ocaso da história da humanidade, porque olham só para si mesmos, e só pensam em seus projetos de poder, para obter mais e mais ganhos para si e para seus fiéis escudeiros. Para eles, não importa se a plebe rude pagará caro por isso, desde que sejam satisfeitos seus objetivos de poder e riqueza, ilimitados e infinitos. Mas, esses indivíduos gananciosos e sem escrúpulos serão relegados a um papel secundário na história humana, estou certo disso.
No Brasil, as jornadas de lutas entre correntes radicalmente opostas, levou à ocupação das ruas, em junho de 2013, numa busca de catarse coletiva, protagonizada por diversos segmentos sociais. Em 2014, no contexto da eleição presidencial, as ruas e as redes sociais se polarizaram. De um lado o antipetismo foi fator de coesão dos verde-amarelos que, em 2015, pediram o impeachment de Dilma Rousseff, enchendo as ruas de partidários prós e contras. Enquanto a oposição espalhava fortemente a narrativa do impeachment, esta foi combatida com força similar via narrativa “do golpe”. A Avenida Paulista, onde todos couberam em 2013, converteu-se em espaço de polarização em 2015. Nas eleições de 2018 o caldo quase entornou, e a situação de tensão atingiu níveis estratosféricos.
Deu no que deu, e o Brasil vive hoje uma divisão sem igual, fragmentado e partido ao meio, sem perspectivas alvissareiras, a curto prazo, de um grande pacto nacional, suprapartidário e voltado para o bem comum. Há grande apatia naqueles que se vêm pouco ou nada representados pela classe política, e eles acabam por delegar os seus destinos a terceiros, àqueles que participam ativamente, debatem com fervor e especialmente votam, mas que estão radicalmente polarizados.
Rodeia-nos, como uma nuvem negra sobre nossas cabeças e almas, o desencanto como sentimento coletivo, o desprezo pela classe política como tônica, a descrença nos três poderes constituídos dos três níveis da Federação como névoa macabra, e a enorme sensação de que segue o mau cheiro da corrupção no ambiente das finanças públicas, chegando o fedor na percepção das narinas, olhos, ouvidos e mente. Não está e não será nada fácil voltarmos ao caminho virtuoso da ordem e progresso; do desenvolvimento social e econômico; da luta por uma educação e cultura capazes de renovar e sanear tanto apodrecimento em que nos meteram; pois longe estamos de encontrar um estadista, que reconduza nossa cidadania dispersa, composta por todos nós, a caminhos de reconstrução nacional focada no bem comum.
No âmbito das entidades BB, parte menor, mas não menos importante, dos macros sistemas mundial e nacional, temos vivenciado situações de estresses constantes, no âmbito de eleições que se revezam a cada dois anos, em diferentes entidades, e que trazem à tona o mesmo cenário de divisão observado no ambiente externo. A PREVI, ajudada pela PREVIC nas eleições de 2018, deixou um gosto azedo ao demonstrar cabalmente que regramentos eleitorais podem ser moldados à medida da conveniência do momento, sendo interpretados ou modificados segundo os interesses de correntes momentaneamente majoritárias, que se aderem ao Patrocinador. A CASSI, em eleição que expeliu sangue nas redes sociais, deixou de forma inconteste a comprovação de que também no meio da comunidade BB o divisionismo chegou de forma implacável, e não menos radical.
Em tal estado de coisas, nos defrontamos com o péssimo cenário econômico-financeiro recebido em 2018 pelos novos dirigentes da nossa Caixa de Assistência, que levou à apressada consulta extraordinária para reformar os Estatutos, visando alterar aspectos da governança e também do custeio da Entidade, em processo que esquentou o clima, aumentou a fervura e deixou a panela de pressão prestes a arrebentar. Mas, no final, em expressiva votação que envolveu a maioria dos aposentados e os da ativa, prevaleceu o NÃO, tendo sido dada resposta firme e forte, no sentido de que eram esperadas melhores condições na negociação entre as partes, e que o Estatuto não seria entregue para mudanças casuísticas de interesse exclusivo de governos de turno, que sempre quiseram, e quase sempre fizeram, o BB e suas Entidades de exemplos para suas traquinagens inconfessas.
Em clara situação característica do conhecido Problema do Agente, administradores, com pressa de mostrar serviço e garantir o cumprimento das metas ordenadas pelo poder de turno, assegurando assim mais um tempinho na gestão, fizeram e desfizeram para convencer a plebe rude de que a famigerada CGPAR 23 tinha que ser implantada e implementada a fórceps, mas essa plebe, cansada, revoltada e desanimada com tantas falsas promessas no ambiente macro e micro, se rebelou com unhas e dentes e disse um sonoro NÃO, aos atropelos dos governantes, que forçaram condutas temerárias para empurrar goela a baixo uma resolução oportunista e ilegal, pois desde seu nascedouro extrapolou a hierarquia das leis e a competência do seu emissor, tentando impor mudanças voltadas a ocultar e disfarçar a incompetência do próprio Estado, ao não controlar adequadamente entes sob sua tutela, que não atuaram bem… O que de nenhum modo é o caso da CASSI!
Agora, vem aí nova consulta extraordinária, trazendo mudanças em pontos relevantes em relação à derrotada proposta anterior (que serão objeto de considerações específicas em novo artigo nosso, a ser publicado em breve), mas tendo um horizonte curtíssimo de validade, qual seja até fins de 2021 ou 2022, dependendo das condições que efetivamente se concretizarem, na ponta da arrecadação, muito dependente dos aumentos de salários e de benefícios, e da inflação médica, sobre a qual a CASSI não tem ingerência alguma.
Mas, para grande parte do Corpo Social da CASSI, o processo em curso ainda provoca um tripé de emoções difíceis de sanar a curto prazo: medo pelas consequências que podem advir, seja pelo NÃO ou pelo SIM; sentimento de desinformação e de que há coisas não contadas no ar; certeza da assimetria de poder em favor do Patrocinador, e que isso poderá custar caro, no futuro próximo. Por outro lado, há em muitos, mas em muitos mesmo, dúvidas e suspicácias em relação à rapidez com que nossas mais importantes e maiores entidades representativas aderiram ao SIM, mesmo antes de ter sido apresentada ao público versão de proposta de reforma “pré-aprovada pelo BB”, conditio sine qua non para o processo ir à Consulta.
Os diálogos que diuturnamente mantemos, em diferentes paragens e com diferentes pessoas, parece indicar que é sentimento majoritário o de que há necessidade de reforço no custeio, e que isto seria palatável, e mais facilmente aprovado, se as medidas nessa direção fossem o objeto principal de consulta extraordinária de caráter específico, deixando para outra oportunidade, um pouco mais adiante, a discussão de mudanças estatutárias, em especial porque a CASSI desde setembro/18 parece ter rompido com a inércia de resultados deficitários, havendo indicativos de que as medidas adotadas pela gestão, a partir do segundo semestre de 2018, e em 2019, começam a produzir bons frutos e que está sendo moldada uma etapa de recuperação econômico-financeira, com viés constante e crescente.
É momento decisivo e de inflexão para o corpo social da CASSI, vivenciado no epicentro de um cenário de incertezas e divisões, que paira sobre todos nós no âmbito político e econômico mundial, nacional e das Entidades BB. Não é tarefa fácil contribuir com o voto consciente e convicto, neste momento. Mas, é fundamental que não aceitemos o papel de cordeirinhos imolados, tão pouco de avestruzes que baixam a cabeça e mostram os fundos, ou de caranguejos que, quando pressionados, andam para trás e se metem no buraco.
Precisamos votar!!! Mas, antes, precisamos buscar o conhecimento verdadeiro, confrontar intensamente ideias, mas respeitando as pessoas e os princípios democráticos. Deste modo, estaremos adequadamente armados para fazermos o que pudermos e o que for necessário, de modo a preservar nossos direitos. É importante também lembrar que as experiências do nosso passado de reformas trouxeram claros exemplos da existência de “cavalinhos de Tróia”, só descobertos depois que a vaca foi para o brejo, e que geraram reflexos negativos por toda a nossa vida. Portanto, pelo sim ou pelo não, MUITA CALMA NESSA HORA!
Williams Francisco da Silva
Presidente da AAPBB