Pesquisa do IBGE sobre orçamento familiar 2017-2018 mostra que gastos chegaram a 11,7% ante 10,9% do levantamento anterior
O pagamento de impostos e dívidas está consumindo parcela maior do orçamento das famílias brasileiras, segundo apurou Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 20172018, divulgada ontem pelo IBGE. Tributos consumiram 11,7% (ante fatia de 10,9% na POF referente a 2008-2009) e 3,2% foram destinados à diminuição do endividamento (ante 2,1% registrados na pesquisa anterior).
Os brasileiros estão gastando mais com impostos e com dívidas, o que encurtou o espaço no orçamento para investimentos no patrimônio, segundo os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa não era feita havia dez anos.
O Brasil tem um rendimento médio mensal e variação patrimonial de R$ 5.426,70 por família. Os recursos permanecem concentrados em uma pequena fatia da população: 2,7% das famílias brasileiras detêm um quinto de toda a massa de renda gerada no Brasil. Por outro lado, a faixa mais pobre, que correspondia a um quarto de todas as famílias brasileiras, compartilhava apenas 5,5% de toda a massa de rendimentos e variação patrimonial do País.
As famílias gastaram, em média, R$ 4.649,03 por mês em 2018. As despesas de consumo absorveram 81% do orçamento, enquanto o pagamento de outras despesas correntes, como os impostos, consumiu outros 11,7% (ante uma fatia de 10,9% na POF anterior, referente a 2008-2009) e 3,2% foram destinados à diminuição de dívidas (ante 2,1% em 2008-2009).
Apenas 4,1% do orçamento foi dirigido a investimentos no patrimônio, como aquisição de imóveis, títulos de capitalização e realização de obras, por exemplo. Na pesquisa de 2008-2009, as famílias destinavam 5,8% do orçamento mensal para reforçar o patrimônio.
A capacidade de investimento das famílias diminuiu, resumiu André Martins, gerente da POF no IBGE. “Pode ser a crise, as famílias estariam adquirindo menos e pagando mais dívidas”, disse Martins. “Se você gasta muito dinheiro com a manutenção, sobra pouco espaço para fazer investimento.”
As despesas de consumo totalizaram R$ 3.764,51 mensais. Na última década, aumentaram os gastos com habitação, saúde e educação, enquanto a fatia de recursos destinada a transporte e alimentação encolheu.
Os gastos com habitação consumiram a maior proporção da cesta de consumo das famílias, 36,6%, ante 35,9% na POF anterior. Também aumentou a destinação de recursos para a saúde (de 7,2% para 8,0%) e educação
• Gastos Pesquisa do IBGE aponta que o pagamento de despesas correntes, como impostos, consumiu 11,7% do orçamento da família brasileira; na pesquisa anterior, essa fatia era de 10,9%
(de 3,0% para 4,7%). Os gastos das famílias com transporte (18,1%) superaram os de alimentação (17,5%) pela primeira vez.
“Na medida em que a renda vai aumentando, a despesa com alimentação diminui. Se você ganhar o dobro vai gastar o dobro com alimentação? Não. Vai gastar em outras coisas”, exemplificou Leonardo Vieira, analista da POF no IBGE.
Para Martins, as famílias também podem ter substituído itens de maior valor por outros mais baratos. “Na alimentação, você consegue fazer substituição, trocar um alimento por outro. No transporte não.”
A pesquisa identificou ainda que os brasileiros estão comendo mais fora de casa. As famílias gastaram, em média, R$ 658,23 mensais com alimentação, sendo 67,2% (R$ 442,27) com alimentos consumidos no domicílio e 32,8% (R$ 215,96) em restaurantes, bares e lanchonetes. O avanço foi maior entre as famílias de zonas rurais. “Pode ser que o desenvolvimento dessas áreas tenha contribuído. Estão chegando mais estabelecimentos”, justificou Martins.
No entanto, o fenômeno também pode ter contribuição de mudanças no mercado de trabalho, com mais mulheres ocupadas fora de casa ou simplesmente mais pessoas da família trabalhando fora do domicílio, acrescentou o pesquisador.
Fonte: O Estado de S. Paulo