As fundações Petros e Previ decidiram que o comando da BRF será decidido no voto e que foram esgotadas as possibilidades de negociação com o empresário Abilio Diniz em busca de uma chapa de consenso para o conselho de administração que será eleito em 26 de abril.
Na prática, isso significa que se o empresário quiser manter alguma participação no colegiado da BRF terá de partir para uma solicitação de adoção de voto múltiplo em assembleia – quando cada acionista distribui os votos que possui individualmente em candidatos, e não em uma chapa fechada. A Península Participações, veículo de investimentos de Abilio, tem 4% das ações da BRF. Em uma disputa por voto múltiplo, a gestora conseguiria pelo menos um assento no conselho.
Do lado de Abilio, ainda há esperança em um acordo, apurou o Valor. Contudo, as fundações agora querem levar aos acionistas a chapa que já tinham apresentado, com dez nomes para o conselho da BRF, e não estão mais dispostas a mudanças. Os fundos de pensão, detentores de 22% do capital da empresa, iniciaram em fevereiro um movimento para trocar o colegiado, com o objetivo de encerrar a ascendência de Abilio na empresa e colocar em revisão a estratégia operacional da companhia, após dois anos de resultados negativos.
O desgaste nas relações entre as fundações e Abilio se acentuou durante o último ano. Para a assembleia de acionistas de 2017, Petros e Previ já tinham manifestado o desejo de modificações na estrutura de comando da BRF. Segundo pessoas próximas à disputa, há uma diferença na visão de governança de Abilio e dos fundos. Enquanto o empresário entende que os acionistas de uma companhia têm papel importante na proposição da estratégia do negócio, os fundos defendem que essa definição cabe ao conselho de administração – que deve ser composto por membros independentes.
Até o fim da semana passada, havia uma tentativa de negociação entre os acionistas para a formação de uma chapa de consenso, que não evoluiu. Na sexta-feira, Abilio, por meio do atual conselho da BRF, apresentou uma chapa concorrente. A intenção era ilustrar com a chapa uma composição mais próxima de um consenso entre os diversos atores envolvidos – o que inclui a maioria do atual conselho de administração e a direção da BRF. Na formação paralela divulgada ao mercado, foram modificados três dos nomes que os fundos de pensão propuseram e uma nova presidência.
De um lado, Petros e Previ querem Augusto Cruz, presidente do conselho da BR Distribuidora, à frente do colegiado, enquanto que a chapa apresentada por Abilio e pelo conselho traz Luiz Fernando Furlan, herdeiro da Sadia e ex-ministro, para o comando do órgão.
O que deu força para as fundações encerrarem o diálogo foi o pedido de Augusto Cruz, à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), para que seu nome fosse retirado da chapa apresentada por Abilio e conselho da BRF. Ao Valor, Augusto Cruz explicou que aceitou o convite dos fundos de pensão porque o grupo formado mostrou ter “as forças necessárias para fazer o que a BRF precisa”. De acordo com ele, o grupo demonstrou “comungar dos mesmos objetivos” para replanejar a BRF.
Até o início da noite de ontem, outro convidado das fundações, José Luiz Osório, seguiu o exemplo de Cruz. A expectativa é que mais três indicados também façam o mesmo: Walter Malieni, Roberto Mendes e Vasco Dias. Os pedidos desses executivos, se formalizados, desidratam a chapa colocada por Abilio e conselho da BRF ao mercado. Na prática, em função dos prazos legais para detentores de ADRs e de usuários dos boletins eletrônicos, os votos no grupo colocada pelo empresário tem risco de serem desconsiderados.
A estratégia agora é substituir e atualizar os documentos o mais rapidamente possível para minimizar esse efeito. Na noite de ontem, o exministro e herdeiro da Sadia, Luiz Fernando Furlan, levou ao atual conselho uma proposta para substituir o nome de Cruz na formação concorrente às fundações: a empresária Luiza Helena Trajano, dona e presidente do conselho de administração da varejista Magazine Luiza. Ele também pediu que o colegiado avalie novos nomes para a chapa, em caso de novos pedidos de exclusão. Para tanto, Furlan solicitou uma reunião extraordinária do conselho – que tem de ser convocada por Abilio.
Em entrevista ao Valor, Furlan ressaltou buscar uma solução que “pacifique” a BRF. “Não estou falando como um conselheiro e nem como porta-voz a companhia. É um desabafo de um acionista que sofre não apenas no bolso e na mente. Mas no coração”, afirmou Furlan.
O ex-ministro também rechaçou as avaliações de que estaria vinculado à Abilio. “Todos os conselheiros da BRF sabem que sou conselheiro independente. Exponho minhas opiniões e não sou preposto de ninguém. Tenho essa independência e prezo por ela”, acrescentou. Por conta disso, Furlan indicou que não sairá da chapa proposta pelo fundos, na qual é membro comum. “Meu trabalho é para a empresa e não para este ou aquele”, disse o ex-ministro.
Furlan também defendeu a recomposição de “chapa oficial” da BRF. “Temos vários nomes engatilhados de pessoas que conhecem o nosso negocio e são respeitadas pelo mercado”, disse. Furlan afirmou que a BRF sempre prosperou por ter pessoa competentes na gestão, e não por ser comandada por investidores institucionais. E elogiou os esforços do atual CEO da BRF, José Aurélio Drummond Jr. para debelar a crise da empresa.
Furlan também reforçou a necessidade de respeitar os “stakeholders” da BRF – 100 mil funcionários, 15 mil granjeiros e gestores que, segundo ele, ficam intranquilos.
Primeira gestora a anunciar apoio público às fundações, a Aberdeen reforçou ontem que marchará ao lado de Petros e Previ na troca do conselho da BRF. A gestora é a quarta maior acionista, com 5%. O diretor da Aberdeen no Brasil, Peter Taylor, acredita que o movimento das fundações terá apoio da maioria.
Fonte: VALOR ECONÔMICO -SP