A Neoenergia iniciou as conversas com investidores para sua oferta pública inicial de ações (IPO), mas deve esbarrar em breve em um obstáculo, segundo o Valor apurou. Um dos acionistas vendedores, o Banco do Brasil, iniciou o processo com uma expectativa mais alta de preço do que o mercado parece disposto a pagar. Isso já tinha acontecido na tentativa de IPO de 2017 – mas o banco pode ser mais flexível no processo desta vez, segundo uma fonte. Outra fonte de preocupação é que a oferta concorre, em interesse, com uma operação grande do setor prestes a sair, a da CPFL.
No balanço do primeiro trimestre, o BB contabilizou a Neoenergia pelo valor patrimonial de R$ 19,4 bilhões. O banco, conforme uma fonte, considera ainda um ágio que elevaria o valor em R$ 2 bilhões. Os primeiros investidores que participaram das rodadas de conversas ponderam que, na última tentativa de IPO da empresa, os acionistas falavam em um valor de R$ 18 bilhões. “Naquela época já foi um número alto. Hoje, entendo que esse seria o patamar razoável. Acima de R$ 20 bilhões é fora de cogitação”, diz um gestor.
Além do BB, a Previ, fundo de pensão dos funcionários do banco, e a Iberdrola são os acionistas vendedores na oferta secundária. O BB tem 9,34% da empresa, a Previ tem 38,21% e a Iberdrola detém 52,45%. Nessa conta ideal do BB, a sua fatia e a do fundo de pensão valeriam quase R$ 11 bilhões.
Os acionistas querem levantar entre R$ 3 bilhões e R$ 3,5 bilhões na oferta, conforme apurado pelo Valor, ajustando o número de ações vendidas ao preço que conseguirem. Os coordenadores são Bank of America, J.P. Morgan, Credit Suisse, Citigroup e HSBC.
Um gestor pondera ainda que há expectativa no mercado sobre a venda de ações da CPFL. A companhia, comprada pela chinesa State Grid, comunicou em abril sua intenção de um “re-IPO” e, em maio, pediu à reguladora americana SEC autorização para uma possível oferta nos EUA.
Questionadas sobre preço, duas pessoas que participam da oferta dizem que bancos e acionistas ainda não estão falando sobre valores. “Há uma receptividade maior dos investidores do que havia na tentativa anterior de IPO da empresa”, diz um executivo. “A empresa está na fase de ‘pilot fishing’ e não está falando no momento de precificação. É cedo para comentar expectativa dos acionistas”, diz a fonte.
Rubem Novaes, presidente do BB, disse na semana passada que o IPO da Neoenergia é o primeiro passo na política de desinvestimento do banco, parte da estratégia de focar nos ativos “core business”. O prazo da operação, segundo ele, é o fim deste semestre.
A Neoenergia tentou um IPO em 2017, mas desistiu diante de baixa demanda. Um banqueiro pondera que, desde então, os múltiplos do setor melhoraram, o que ajuda no comparativo de preço.
Fonte: VALOR ECONÔMICO -SP